sexta-feira, 10 de outubro de 2003
Sangue e emoção(????) em Vila Franca - Esperas de toiros com feridos durante a Feira de Outubro (2003)
Esperas de toiros com feridos durante a Feira de Outubro (2003)
A tradição renovou-se em Vila Franca de Xira. Os toiros colheram vários aficcionados com gravidade, mas mesmo assim houve queixas de falta de bravura dos animais.
Um ferido com traumatismo craniano e três feridos ligeiros foram o resultado do primeiro dia de esperas de toiros em Vila Franca de Xira. Mas as colhidas não afastaram os aficcionados da Feira de Outubro, que decorre até domingo.
No sábado, 4 de Outubro, a “Sevilha Portuguesa” transformou-se num rebuliço com a perseguição aos seis cabrestos que fugiram da manga. Os animais provocaram danos materiais na chapa das viaturas dos Bombeiros de Vila Franca e atingiram ainda um carro dos Bombeiros de Castanheira do Ribatejo.
No domingo, registaram-se mais três feridos, um deles com traumatismo craniano. Um indivíduo foi colhido pelo toiro junto à lota, outro foi atingido na Praça Palha Blanco e o terceiro foi surpreendido junto à estação. No mesmo dia, um dos toiros ficou com uma fractura exposta numa pata da frente. Na segunda-feira de manhã houve a registar apenas alguns “sustos” sem gravidade, segundo informação do comandante António Pedro dos Bombeiros Voluntários de Vila Franca de Xira.
A largada de toiros desapontou centenas de vilafranquenses...
O público sentado nas bancadas desmontáveis reclamava a falta de bravura dos animais fornecidos pela ganadaria de José Luís Pereira, de Salvaterra de Magos. Os mais corajosos saltaram para dentro das tranqueiras mas andaram de braços cruzados à espera de uma investida do animal. Enfim, o ambiente esteve calmo e até dava tempo para as crianças brincarem na manga sob o olhar dos pais.
De mãos na cintura e peito para fora, dezenas de homens arriscavam uma pega com alma de ribatejano. No entanto, por motivos alheios aos forcados de ocasião, os toiros saíram vivos, ou seja, não foram pegados.
Habituado às lides da festa brava, Vítor de Oliveira, de Alhandra, actualmente reformado, critica a falta de garra da nova geração. O ex-forcado recorda o tempo em que um grupo de homens cansava o toiro num sítio e dava espectáculo. No entanto, não falha a uma largada, já que é uma tradição que na sua opinião deve continuar.
in 'O Mirante'
segunda-feira, 30 de junho de 2003
Reportagem da SIC "Vermelho e Negro"
A exigência ética do fim das touradas
A SIC exibiu, durante esta semana que passou, em cada emissão do "Jornal da Noite", com repetição integral no "Jornal das 10" da SIC Notícias de ontem, a excelente reportagem "Vermelho e Negro", a respeito das touradas em Portugal.
Neste trabalho de grande qualidade, da autoria da jornalista Cristina Boavida, foi possível conhecer melhor o mundo das corridas de touros em Portugal, nomeadamente permitindo reforçar ainda mais a ideia de que este é um meio de violência e crueldade em que as vítimas são os touros (e também os cavalos), perseguidos, molestados, feridos e sacrificados que são, em nome daquilo que é na verdade um negócio, mais do que uma tradição. E, como é óbvio, mesmo que a única razão fosse a tradição, nada se seguiria daí que pudesse justificar uma tal barbaridade.
O requinte do sadismo que caracteriza os cavaleiros tauromáquicos foi revelado por aquele que é considerado o maior de todos eles: João Moura. Como se pode ver nesta reportagem, a forma que este toureiro (responsável pela morte de milhares de touros na sua carreira de barbérie) encontrou de compensar o cavalo que, segundo o mesmo, mais o ajudou e do qual mais gostou, foi usar as suas patas para fazer uma mesa de centro para a sua sala de estar, assim como expor a sua crina e outras partes anatómicas deste animal, nomeadamente a cabeça, presa numa parede juntamente com a cabeça de alguns dos muitos touros que João Moura massacrou durante a sua actividade taurina.
Pode, de resto, ver-se João Moura e João Moura Júnior (filho do primeiro) a treinarem com bezerras de muito pouca idade, espetando os seus frágeis e ainda pouco desenvolvidos corpos com as habituais farpas que usam como seus privilegiados instrumentos de tortura. Pudemos ver as bezerras visivelmente incomodadas com a dor causada por esta prática abjecta, para além de uma delas estar com os chifres serrados de tal maneira que não paravam de sangrar (os chifres são serrados para lhes serem retiradas as defesas naturais e, assim, estarem numa luta ainda mais desigual com os seus agressores, os toureiros e forcados). E estes treinos acontecem numa base quase diária, o que significa que o martírio de animais - nomeadamente de animais muito jovens ou mesmo bébés, como foi o caso da bezerra que Moura levou para o programa "Herman SIC" há umas semanas atrás - é muitíssimo frequente.
Ainda a propósito da família Moura, foi deveras preocupante e assustador ver João Moura Júnior, um adolescente de apenas quatorze anos, já iniciado nestas práticas hediondas, habituado já a, tal como o pai, torturar animais com fins ora lúdicos, ora económicos. Como disse este jovem, "é a profissão". De valores éticos, não sabe, pois evidentemente não teve quem lhos transmitisse (e, segundo mesmo, nem em termos de habilitações académicas quer avançar, pois pretende ficar apenas com o 9º ano de escolaridade, num país que está a determinar o 12º ano como escolaridade mínima obrigatória). É de notar que João Moura, para além das suas primevas actividades tauromáquicas, é também conhecido por organizar provas equestres ilegais (os chamados "raides equestres") sem autorização da Federação Equestre Portuguesa e sem observar qualquer regulamento da mesma ou qualquer legislação vigente, levando, nestas provas, vários cavalos à morte por exaustão para seu gáudio. É, portanto, um homem para quem a moral e a lei nada dizem, sobretudo quando isso possa constituir um obstáculo às suas inclinações mais primitivas.
Nesta reportagem, pudemos ainda conhecer melhor Luís Rouxinol, um cavaleiro tauromáquico também propenso a ter comportamentos ilícitos decorrentes das suas tendências violentas que não só se dirigem contra animais não-humanos como também contra humanos. A prova disso é que, no Verão do ano passado, quando um grupo de activistas anti-tourada se manifestava, no pleno exercício dos seus direitos civis e constitucionais, contra uma corrida de touros que estava a decorrer na Praça da Touros de Torres Vedras e em que participava este cavaleiro tauromáquico, Rouxinol contornou propositadamente a barreira de protecção policial que determinava o espaço reservado aos manifestantes e que os resguardava, e atirou-se com o seu cavalo (outra das suas muitas vítimas) literalmente para cima destes activistas. Quando dois agentes da PSP presentes no local o tentaram deter e fazer com que descesse do cavalo, Rouxinol destinou-lhes o mesmo tratamento que destinou aos activistas, agredindo os agentes da autoridade. Tanto assim que o próprio Comando da PSP de Torres Vedras acabou por proceder judicialmente contra este cavaleiro tauromáquico. É, aliás, importante destacar que é comum ver aficionados das touradas, forcados e toureiros agredirem activistas dos direitos dos animais quando estes legitimamente - e, como sempre, dentro da legalidade - se manifestam contra as corridas de touros nas quais estes participam ou a que assistem. Ainda sobre Luís Rouxinol, é de referir que este cavaleiro tauromáquico foi um dos participantes na Corrida de Touros que aconteceu em Santarém no passado dia 10 de Junho, considerado pelos mesmos o "Dia da Raça", tendo esta sido, supostamente, a "Corrida do Dia da Raça", o que mostra também a tendência xenófoba destas pessoas.
A injustificabilidade das corridas de touros era já conhecida. Contudo, esta reportagem também nos permitiu confirmar ainda mais esta ideia. Quando vimos que os dois cavaleiros praticantes entrevistados (nomeadamente João Moura Júnior) responderem com frases como "É muito complicado explicar agora" ou "não sei" quando lhes foi perguntado se não achavam que o que faziam era cruel, facilmente concluímos que estas pessoas nem rudimentares justificações conseguem apresentar para aquilo que fazem. Por outro lado, o forcado entrevistado deixou também muito claro o que os machistas são os indivíduos ligados às touradas, vendo as mulheres como instrumentos, enfeites ou apoio. Isso ficou também muito claro num célebre debate televisivo sobre as touradas, exibido o ano passado na RTP ("Gregos & Troianos"), quando Gonçalo da Câmara Pereira, aficionado assumido, falou em "namoradas mansas e namoradas bravas" numa muito infeliz analogia com "touros mansos e touros bravos", sugerindo que as primeiras não precisariam de ser domadas mas que as segundas já precisariam de ser dominadas, tal como os touros. O entendimento destas pessoas é, pois, o seguinte: as mulheres estão na mesma linha dos touros, ou seja, são também instrumentos, que deverão ou não ser dominados (eventualmente pela força) consoante sejam "mansas" ou "bravas". Ora, este quadro mental dispensa comentários.
Neste contexto, a cavaleira tauromáquica Sónia Matias, também entrevistada nesta reportagem, orgulhar-se-á de ser respeitada pelos seus pares. Muito possivelmente, não consegue compreender que estas pessoas estão demasiadamente condicionadas do ponto de vista moral, cultural e mesmo intelectual para saberem o que é o respeito, nomeadamente a própria Sónia Matias. Está, claramente, iludida. Também esta lamentável figura do meio tauromáquico português revelou a sua inconsciência sem pejo, pois, quando lhe foi perguntado se alguma tinha sentido pena dos touros, Sónia Matias respondeu prontamente com um "não", soltando imediatamente a seguir uma gargalhada cuja causa ninguém conseguiria compreender: rir-se-ia do facto de não ter pena dos touros que tortura e mata, rir-se-ia de si mesma por não ter pena dos touros que tortura e mata ou rir-se-ia da pergunta? Diremos talvez que o melhor será não apurar a resposta.
Nesta reportagem, ficou também claro que as touradas são um negócio, sendo que João Moura é dos cavaleiros tauromáquicos mais bem sucedidos (dado que é aquele que aufere maiores rendimentos por tourada). É elementar salientar que, no fundo, aquilo que move estas pessoas - desde os toureiros aos ganadeiros e empresários tauromáquicos - não é mais do que os rendimentos que conseguem obter nestas práticas, para além de um suposto estatuto social que, em círculos de uma confrangedora pobreza moral, cultural e civilizacional, é reconhecido e apreciado por pessoas cujo carácter é, no mínimo, duvidoso. Mas foi interessante notar que Manuel Gonçalves, empresário tauromáquico também entrevistado nesta reportagem, reconheceu que, actualmente, "é mais fácil perder cinco mil contos do que ganhar quinhentos contos" neste negócio, dizendo também que "uma praça de touros que tenha capacidade para dez mil pessoas tem apenas mil ou mil e quinhentas pessoas na assistência", o que confirma aquilo que as organizações portuguesas e espanholas de defesa dos animais bem sabem: as touradas são um negócio em franco declínio, quer em Portugal, quer em Espanha. O público das corridas de touros é, de resto, numa grande percentagem, o mesmo público, pois compõe-se de um grupo de pessoas que percorre a maioria das corridas de touros que se realizam em Portugal. As diversas sondagens que ao longo dos anos se têm feito (por diversos centros de sondagens) são, de resto, muito claras: dos resultados habitualmente conseguidos, entre 80% a 85% da população portuguesa não concorda com a existência de touradas.
A verdade, porém, é que, embora as corridas de touros estejam condenadas a um fim que se afigura cada vez mais próximo, Portugal continua de algum modo refém desta triste realidade, que nos choca e envergonha. Milhares de bezerros e touros continuam a ser torturados e mortos anualmente em Portugal em actividades tauromáquicas. A título de exemplo, no domingo passado, dia 8 de Junho, na Labrujeira (concelho de Torres Vedras), três bezerras de quatro meses foram literalmente espezinhadas por populares a cavalo num suposto toureio a cavalo sem farpas. As bezerras ficaram caídas, com ferimentos graves e inconscientes, na arena improvisada desta aldeia. Evidentemente, isto infringiu leis vigentes, desrespeitando até o próprio Regulamento de Espectáculos Tauromáquicos. Alertada para o caso, a ANIMAL dirigiu-se à Labrujeira, encontrando uma população afogada em álcool e preparada para, depois deste massacre, assistir a uma largada de touros que aconteceria horas depois. Chegada ao posto da GNR mais próximo, a equipa da ANIMAL identificou-se (nomeadamente Miguel Moutinho, como dirigente da organização), pedindo aos agentes da autoridade que identificassem a Comissão de Festas responsável por este massacre. A GNR, seguindo os procedimentos que também se "tradicionalizaram" depois de Barrancos, não se dispôs a identificar a Comissão de Festas, remetendo para uma eventual queixa que a ANIMAL apresentasse no Ministério Público, após a qual seria solicitada a esta força policial a identificação dos responsáveis. Só nesta tarde, três bezerras de quatro meses perderam a vida depois de um sofrimento brutal, ao que se seguiu a tortura de mais três touros. A ANIMAL nada mais pôde fazer, desde logo perante a total passividade das autoridades policiais.
Perante tudo isto, o fim das touradas apresenta-se como uma exigência ética que deve urgentemente ser cumprida. Não é admissível que Portugal continue a permitir a perseguição e tortura de animais, nomeadamente nas circunstâncias em que isto acontece no meio tauromáquico. A continuação destas práticas é um autêntico escândalo moral, como defendeu Artur Mendes, Presidente da ANIMAL, quando entrevistado na reportagem "Vermelho e Negro". A ANIMAL está cada vez mais empenhada na defesa dos animais e na promoção do fim de todos os actos cruéis a que sejam submetidos, estando especialmente concentrada (sobretudo numa altura do ano em que a época tauromáquica está no seu auge) em combater as corridas de touros.
É por esta razão e por entender que é altura de, num tom ainda mais elevado, afirmar a necessidade e o dever de respeitar e proteger os animais, que a ANIMAL apela a todas as pessoas para que participem na 2ª Marcha Anti-Tourada e de Defesa Animal, a acontecer a 18 de Julho, a partir das 17h, no Parque Eduardo VII, em Lisboa.
"Vermelho e Negro" é uma reportagem da autoria de Cristina Boavida, da SIC. Foi transmitida em Junho de 2003 mas não há vídeos em lado nenhum. Há esta transcrição com alguns ficheiros mp3, mas dá para ficar a conhecer um pouco melhor o "antes e depois" de uma tourada...
Avisamos que contém conteúdo violento.
A SIC exibiu, durante esta semana que passou, em cada emissão do "Jornal da Noite", com repetição integral no "Jornal das 10" da SIC Notícias de ontem, a excelente reportagem "Vermelho e Negro", a respeito das touradas em Portugal.
Neste trabalho de grande qualidade, da autoria da jornalista Cristina Boavida, foi possível conhecer melhor o mundo das corridas de touros em Portugal, nomeadamente permitindo reforçar ainda mais a ideia de que este é um meio de violência e crueldade em que as vítimas são os touros (e também os cavalos), perseguidos, molestados, feridos e sacrificados que são, em nome daquilo que é na verdade um negócio, mais do que uma tradição. E, como é óbvio, mesmo que a única razão fosse a tradição, nada se seguiria daí que pudesse justificar uma tal barbaridade.
O requinte do sadismo que caracteriza os cavaleiros tauromáquicos foi revelado por aquele que é considerado o maior de todos eles: João Moura. Como se pode ver nesta reportagem, a forma que este toureiro (responsável pela morte de milhares de touros na sua carreira de barbérie) encontrou de compensar o cavalo que, segundo o mesmo, mais o ajudou e do qual mais gostou, foi usar as suas patas para fazer uma mesa de centro para a sua sala de estar, assim como expor a sua crina e outras partes anatómicas deste animal, nomeadamente a cabeça, presa numa parede juntamente com a cabeça de alguns dos muitos touros que João Moura massacrou durante a sua actividade taurina.
Pode, de resto, ver-se João Moura e João Moura Júnior (filho do primeiro) a treinarem com bezerras de muito pouca idade, espetando os seus frágeis e ainda pouco desenvolvidos corpos com as habituais farpas que usam como seus privilegiados instrumentos de tortura. Pudemos ver as bezerras visivelmente incomodadas com a dor causada por esta prática abjecta, para além de uma delas estar com os chifres serrados de tal maneira que não paravam de sangrar (os chifres são serrados para lhes serem retiradas as defesas naturais e, assim, estarem numa luta ainda mais desigual com os seus agressores, os toureiros e forcados). E estes treinos acontecem numa base quase diária, o que significa que o martírio de animais - nomeadamente de animais muito jovens ou mesmo bébés, como foi o caso da bezerra que Moura levou para o programa "Herman SIC" há umas semanas atrás - é muitíssimo frequente.
Ainda a propósito da família Moura, foi deveras preocupante e assustador ver João Moura Júnior, um adolescente de apenas quatorze anos, já iniciado nestas práticas hediondas, habituado já a, tal como o pai, torturar animais com fins ora lúdicos, ora económicos. Como disse este jovem, "é a profissão". De valores éticos, não sabe, pois evidentemente não teve quem lhos transmitisse (e, segundo mesmo, nem em termos de habilitações académicas quer avançar, pois pretende ficar apenas com o 9º ano de escolaridade, num país que está a determinar o 12º ano como escolaridade mínima obrigatória). É de notar que João Moura, para além das suas primevas actividades tauromáquicas, é também conhecido por organizar provas equestres ilegais (os chamados "raides equestres") sem autorização da Federação Equestre Portuguesa e sem observar qualquer regulamento da mesma ou qualquer legislação vigente, levando, nestas provas, vários cavalos à morte por exaustão para seu gáudio. É, portanto, um homem para quem a moral e a lei nada dizem, sobretudo quando isso possa constituir um obstáculo às suas inclinações mais primitivas.
Nesta reportagem, pudemos ainda conhecer melhor Luís Rouxinol, um cavaleiro tauromáquico também propenso a ter comportamentos ilícitos decorrentes das suas tendências violentas que não só se dirigem contra animais não-humanos como também contra humanos. A prova disso é que, no Verão do ano passado, quando um grupo de activistas anti-tourada se manifestava, no pleno exercício dos seus direitos civis e constitucionais, contra uma corrida de touros que estava a decorrer na Praça da Touros de Torres Vedras e em que participava este cavaleiro tauromáquico, Rouxinol contornou propositadamente a barreira de protecção policial que determinava o espaço reservado aos manifestantes e que os resguardava, e atirou-se com o seu cavalo (outra das suas muitas vítimas) literalmente para cima destes activistas. Quando dois agentes da PSP presentes no local o tentaram deter e fazer com que descesse do cavalo, Rouxinol destinou-lhes o mesmo tratamento que destinou aos activistas, agredindo os agentes da autoridade. Tanto assim que o próprio Comando da PSP de Torres Vedras acabou por proceder judicialmente contra este cavaleiro tauromáquico. É, aliás, importante destacar que é comum ver aficionados das touradas, forcados e toureiros agredirem activistas dos direitos dos animais quando estes legitimamente - e, como sempre, dentro da legalidade - se manifestam contra as corridas de touros nas quais estes participam ou a que assistem. Ainda sobre Luís Rouxinol, é de referir que este cavaleiro tauromáquico foi um dos participantes na Corrida de Touros que aconteceu em Santarém no passado dia 10 de Junho, considerado pelos mesmos o "Dia da Raça", tendo esta sido, supostamente, a "Corrida do Dia da Raça", o que mostra também a tendência xenófoba destas pessoas.
A injustificabilidade das corridas de touros era já conhecida. Contudo, esta reportagem também nos permitiu confirmar ainda mais esta ideia. Quando vimos que os dois cavaleiros praticantes entrevistados (nomeadamente João Moura Júnior) responderem com frases como "É muito complicado explicar agora" ou "não sei" quando lhes foi perguntado se não achavam que o que faziam era cruel, facilmente concluímos que estas pessoas nem rudimentares justificações conseguem apresentar para aquilo que fazem. Por outro lado, o forcado entrevistado deixou também muito claro o que os machistas são os indivíduos ligados às touradas, vendo as mulheres como instrumentos, enfeites ou apoio. Isso ficou também muito claro num célebre debate televisivo sobre as touradas, exibido o ano passado na RTP ("Gregos & Troianos"), quando Gonçalo da Câmara Pereira, aficionado assumido, falou em "namoradas mansas e namoradas bravas" numa muito infeliz analogia com "touros mansos e touros bravos", sugerindo que as primeiras não precisariam de ser domadas mas que as segundas já precisariam de ser dominadas, tal como os touros. O entendimento destas pessoas é, pois, o seguinte: as mulheres estão na mesma linha dos touros, ou seja, são também instrumentos, que deverão ou não ser dominados (eventualmente pela força) consoante sejam "mansas" ou "bravas". Ora, este quadro mental dispensa comentários.
Neste contexto, a cavaleira tauromáquica Sónia Matias, também entrevistada nesta reportagem, orgulhar-se-á de ser respeitada pelos seus pares. Muito possivelmente, não consegue compreender que estas pessoas estão demasiadamente condicionadas do ponto de vista moral, cultural e mesmo intelectual para saberem o que é o respeito, nomeadamente a própria Sónia Matias. Está, claramente, iludida. Também esta lamentável figura do meio tauromáquico português revelou a sua inconsciência sem pejo, pois, quando lhe foi perguntado se alguma tinha sentido pena dos touros, Sónia Matias respondeu prontamente com um "não", soltando imediatamente a seguir uma gargalhada cuja causa ninguém conseguiria compreender: rir-se-ia do facto de não ter pena dos touros que tortura e mata, rir-se-ia de si mesma por não ter pena dos touros que tortura e mata ou rir-se-ia da pergunta? Diremos talvez que o melhor será não apurar a resposta.
Nesta reportagem, ficou também claro que as touradas são um negócio, sendo que João Moura é dos cavaleiros tauromáquicos mais bem sucedidos (dado que é aquele que aufere maiores rendimentos por tourada). É elementar salientar que, no fundo, aquilo que move estas pessoas - desde os toureiros aos ganadeiros e empresários tauromáquicos - não é mais do que os rendimentos que conseguem obter nestas práticas, para além de um suposto estatuto social que, em círculos de uma confrangedora pobreza moral, cultural e civilizacional, é reconhecido e apreciado por pessoas cujo carácter é, no mínimo, duvidoso. Mas foi interessante notar que Manuel Gonçalves, empresário tauromáquico também entrevistado nesta reportagem, reconheceu que, actualmente, "é mais fácil perder cinco mil contos do que ganhar quinhentos contos" neste negócio, dizendo também que "uma praça de touros que tenha capacidade para dez mil pessoas tem apenas mil ou mil e quinhentas pessoas na assistência", o que confirma aquilo que as organizações portuguesas e espanholas de defesa dos animais bem sabem: as touradas são um negócio em franco declínio, quer em Portugal, quer em Espanha. O público das corridas de touros é, de resto, numa grande percentagem, o mesmo público, pois compõe-se de um grupo de pessoas que percorre a maioria das corridas de touros que se realizam em Portugal. As diversas sondagens que ao longo dos anos se têm feito (por diversos centros de sondagens) são, de resto, muito claras: dos resultados habitualmente conseguidos, entre 80% a 85% da população portuguesa não concorda com a existência de touradas.
A verdade, porém, é que, embora as corridas de touros estejam condenadas a um fim que se afigura cada vez mais próximo, Portugal continua de algum modo refém desta triste realidade, que nos choca e envergonha. Milhares de bezerros e touros continuam a ser torturados e mortos anualmente em Portugal em actividades tauromáquicas. A título de exemplo, no domingo passado, dia 8 de Junho, na Labrujeira (concelho de Torres Vedras), três bezerras de quatro meses foram literalmente espezinhadas por populares a cavalo num suposto toureio a cavalo sem farpas. As bezerras ficaram caídas, com ferimentos graves e inconscientes, na arena improvisada desta aldeia. Evidentemente, isto infringiu leis vigentes, desrespeitando até o próprio Regulamento de Espectáculos Tauromáquicos. Alertada para o caso, a ANIMAL dirigiu-se à Labrujeira, encontrando uma população afogada em álcool e preparada para, depois deste massacre, assistir a uma largada de touros que aconteceria horas depois. Chegada ao posto da GNR mais próximo, a equipa da ANIMAL identificou-se (nomeadamente Miguel Moutinho, como dirigente da organização), pedindo aos agentes da autoridade que identificassem a Comissão de Festas responsável por este massacre. A GNR, seguindo os procedimentos que também se "tradicionalizaram" depois de Barrancos, não se dispôs a identificar a Comissão de Festas, remetendo para uma eventual queixa que a ANIMAL apresentasse no Ministério Público, após a qual seria solicitada a esta força policial a identificação dos responsáveis. Só nesta tarde, três bezerras de quatro meses perderam a vida depois de um sofrimento brutal, ao que se seguiu a tortura de mais três touros. A ANIMAL nada mais pôde fazer, desde logo perante a total passividade das autoridades policiais.
Perante tudo isto, o fim das touradas apresenta-se como uma exigência ética que deve urgentemente ser cumprida. Não é admissível que Portugal continue a permitir a perseguição e tortura de animais, nomeadamente nas circunstâncias em que isto acontece no meio tauromáquico. A continuação destas práticas é um autêntico escândalo moral, como defendeu Artur Mendes, Presidente da ANIMAL, quando entrevistado na reportagem "Vermelho e Negro". A ANIMAL está cada vez mais empenhada na defesa dos animais e na promoção do fim de todos os actos cruéis a que sejam submetidos, estando especialmente concentrada (sobretudo numa altura do ano em que a época tauromáquica está no seu auge) em combater as corridas de touros.
É por esta razão e por entender que é altura de, num tom ainda mais elevado, afirmar a necessidade e o dever de respeitar e proteger os animais, que a ANIMAL apela a todas as pessoas para que participem na 2ª Marcha Anti-Tourada e de Defesa Animal, a acontecer a 18 de Julho, a partir das 17h, no Parque Eduardo VII, em Lisboa.
"Vermelho e Negro" é uma reportagem da autoria de Cristina Boavida, da SIC. Foi transmitida em Junho de 2003 mas não há vídeos em lado nenhum. Há esta transcrição com alguns ficheiros mp3, mas dá para ficar a conhecer um pouco melhor o "antes e depois" de uma tourada...
Avisamos que contém conteúdo violento.
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