Associação Animal protesta em Lisboa contra touradas e enfrenta aficionados
A Associação Animal tem-se manifestado em frente ao Campo Pequeno em Lisboa contra a festa brava mas evita fazê-lo no Ribatejo com medo da reacção dos aficionados. Associações organizaram segundo convívio do aficionado e O MIRANTE ouviu ribatejanos que marcaram presença na praça lisboeta.
Desde que a praça de touros do Campo Pequeno, em Lisboa, reabriu portas há três anos, activistas da associação ANIMAL têm-se manifestado em frente à praça contra as touradas, mas evitam fazê-lo no Ribatejo. “Porque queremos conservar-nos vivos e inteiros para continuarmos a defender os direitos dos animais”, explica a vice-presidente da associação, Rita Silva. Uma justificação dada a O MIRANTE durante o protesto, feito pela associação em frente ao Campo Pequeno, na quinta-feira, 14 de Maio, pouco tempo antes de ter início mais uma corrida de toiros na praça da capital.
A responsável lembra que a associação não tem capacidade logística para ir a todo o lado. Que já foram feitas manifestações em terras com fortes raízes tauromáquicas, mas as coisas não correram bem. “Tivemos muitas más experiências sempre que tentávamos fazê-lo porque havia uma falta de pacifismo da parte dos aficionados muito assustadora”, garante a vice-presidente.
Rita Silva admite que é mais seguro e uma questão de bom senso ficar por Lisboa do que rumar a terras de abrangência de O MIRANTE, onde vão decorrer em breve várias corridas e iniciativas ligadas à festa brava, como a Feira da Ascensão na Chamusca, Feira de Maio na Azambuja, as corridas de Junho em Santarém ou o Colete Encarnado em Vila Franca de Xira.
“Não há necessidade de nos expormos ou provocar uma reacção que, à partida, sabemos será muito mais violenta em terras ditas tauromáquicas, do que na capital do país”, confessa. Quanto à organização de um possível protesto anti-taurino em terras ribatejanas, a vice-presidente da Associação ANIMAL joga à defesa e prefere não revelar “a estratégia de trabalho que está bem delineada”.
Com 28 anos e a trabalhar a tempo inteiro na associação há cinco, Rita Silva liderou a manifestação que juntou cerca de meia centena de activistas defensores dos direitos dos animais que se concentraram do lado direito da entrada principal do Campo Pequeno, para protestarem contra as corridas de touros.
Os jovens, quase todos com idades compreendidas entre os vinte e os trinta anos, vestiam t-shirt preta onde estava escrito: “Sou Português, Sou Civilizado”. Empunhando cartazes e com megafone gritavam palavras de ordem como “cobardes”, “vergonha” ou “assassinos” e pediam que as touradas fossem proibidas.
Do outro lado da barricada, a poucos metros de distância, decorria ao mesmo tempo o segundo encontro de aficionados, alguns identificados com uma t-shirt branca, onde se podia ler “Sou Português Sou Aficionado” e que podia ser comprada por dois euros. Organizado por várias associações ligadas à festa brava, o encontro serviu para reunir amantes da tauromaquia. “No Ribatejo, quando há corrida de touros as pessoas juntam-se um pouco antes para fazerem uma tertúlia. No encontro do aficionado queremos que vivam a tourada antes e durante o espectáculo”, salienta José Potier, presidente da Associação Nacional de Grupos de Forcados e um dos organizadores da iniciativa.
À medida que se aproximava a hora da corrida e começava a chegar mais público, intensificavam-se e aumentavam de tom as palavras de repúdio e desagrado por parte da meia centena dos manifestantes anti-touradas.
A noite ia arrefecendo e enquanto de um lado se protestava, do outro assistia-se a danças de Sevilhanas. Dezenas de pessoas paravam e admiravam o desempenho das seis dançarinas. O espectáculo começou pelas 20h30, durou cerca de 45 minutos e foi durante esse período em que houve maior concentração de aficionados no local.
A noite acabou fria, os protestos continuaram até às 22h15, hora marcada para o início da corrida e nós acabamos com os bolsos cheios de panfletos a anunciar futuras corridas de touros, todas no Ribatejo. A polícia esteve sempre por perto e não houve incidentes a registar. Ambas as partes garantiram que marcarão presença em frente ao Campo Pequeno sempre que houver uma corrida de touros na praça lisboeta.
Activistas anti-tourada “são uns ditadorzinhos”
Muitos ribatejanos marcaram presença na segunda corrida da temporada realizada no Campo Pequeno. João Ramalho, 74 anos, ganadero e ex-forcado do grupo de Santarém é um espectador assíduo das corridas na praça da capital portuguesa, que considera ser a mais importante do nosso país. Quanto aos manifestantes é bastante crítico. “São uns chatos que querem ser uns ditadorzinhos. Num país em que há liberdade, que se vota tudo por maiorias absolutas, haver minoritários que se querem impor, antigamente chamavam-se ditadores. São pessoas à espera de chamar a atenção”, diz o ganadeiro de Salvaterra de Magos.
Questionado sobre a possibilidade de se fazer uma manifestação anti-tourada no Ribatejo, João Ramalho não tem dúvidas: “Acontecia o mesmo que aqui. Está toda a gente a ir para os toiros, estão para ali a fazer barulho e ninguém lhes liga”.
Domingos Xavier, 59 anos, lidou com touros e cavalos toda uma vida. Natural de Coruche, o médico veterinário é frequentador das corridas da praça lisboeta. “Se fossemos só aficionados nas corridas éramos capazes de ser mais nefastos à festa do que aqueles fulanos que estão ali ao lado a gritar”, garante Domingos Xavier, aludindo ao facto de haver público em geral nas bancadas e não só aficionados.
Respeita a posição de quem não concorda com as touradas mas não tem dúvidas: “Desgraçadamente são ignorantes. Custa-me a sua desonestidade intrínseca pois têm mentido ao longo dos anos sobre o que fazemos aos animais. São mal-educados e já vi na mão desta gente um cartaz a dizer, “queres brincar com cornos brinca com o teu pai”, revela o veterinário.
Luís Junça viajou de Santarém. O jovem de 28 anos costuma vir à praça lisboeta quando o cartel lhe agrada. Diz que a tourada é uma tradição. “Os protestos não fazem sentido nem têm qualquer fundamento. Só temos de os ignorar. Quem não gosta, respeita como nós respeitamos”, revela o aficionado.
Luís Junça diz que a praça lisboeta é a mais marcante, mas Santarém está no bom caminho. “O presidente Moita Flores tem feito um bom trabalho pondo o preço dos bilhetes mais acessíveis. A praça de toiros está sempre cheia”, afirma o jovem.
Edição de 2009-05-21