quarta-feira, 7 de março de 2012

Em 2002 a PJ investigou a utilização de drogas nos touros

... e qual o resultado? O que foi apurado? Desde então nada se sabe...


23-07-2002

A Polícia Judiciária (PJ) está a investigar a utilização de drogas nos touros de lide. As investigações arrancaram há cerca de um mês, depois de a PJ ter recebido várias denúncias de veterinários segundo as quais terão sido detectados vestígios de Rompun e Calmivet em carcaças de touros lidados em praças portuguesas.

Segundo uma fonte da PJ, o Rompun e o Calvimet, sendo subs-tâncias analgésicas, estarão a ser utilizadas com o objectivo de tornar os touros mais dóceis para o toureio a cavalo. João Alvoeiro, presidente do Sindicato dos Médicos Veterinários, afirma que estes medicamentos animais “não podem ser usados para isso: é impossível, porque o touro fica completamente atordoado, cambaleante”.

A verdade é que, segundo disse ao Correio da Manhã um ganadero cujos animais já sofreram os efeitos do Rompun, esta substância está a ser utilizada em Portugal para acalmar os touros antes de entrarem na arena. “Já houve casos pontuais em Portugal”, afirma peremptoriamente esse criador, que solicitou o anonimato.

E para que não restem dúvidas sobre a utilização de Rompun e Calvimet, este ganadero é ainda mais preciso: “no meu caso, os touros ficaram praticamente a dormir; enganaram-se nas doses e nem sequer chegaram a ser lidados”. Mais: “no meu caso, não me calei porque foi evidente de mais. E denunciei a situação à autoridade sanitária”.

Passados alguns dias os animais regressaram ao estado normal, desaparecendo os vestígios dessas substâncias por via da urina. Daí que, para detectar resíduos de Rompun ou Calvimet, “as análises têm que ser feitas logo a seguir aos animais terem sido lidados”, sublinha aquele ganadero.

O recurso a estes medicamentos parece ter uma explicação muito simples: “quando os toureiros têm medo dos touros, porque são grandes, utiliza-se tranquilizantes”, acrescenta. Vasco Lucas, secretário-técnico da Associação Portuguesa de Criadores de Touros de Lide, reconhece que já “ouviu falar” na utilização de drogas nos touros de lide, mas deixa claro que “a associação não sabe de nada oficialmente”.

Segundo este responsável, os toureiros “pretendem ter cada vez mais um touro mais dócil, porque é isso que permite o toureio artístico e é isso que o público quer”. Só que, “quando aparecem touros mais dóceis, começa-se a falar em drogas, mas não é”, afirma.

Explica Vasco Lucas que “os touros mais dóceis são o resultado de uma selecção genética feita pelos ganaderos”. Esse aperfeiçoamento genético “é feito a partir da tenta (lide)” e o tipo de touros “depende do critério de cada criador: uns gostam mais de animais agressivos, outros preferem animais mais dóceis”, conclui.

As mães dos touros aprovados são seleccionadas para procriação, enquanto que as mães dos reprovados têm como destino o consumo de carne. O criador contactado pelo Correio da Manhã não tem dúvidas que “os touros hoje já são mais toureáveis, mais nobres”, na sequência de uma selecção genética que “permite obter touros mais suaves”.

Mas, mesmo assim, frisa que “ninguém quer falar (na utilização de drogas para tranquilizar os touros de lide). Os toureiros dizem que não o fazem e os ganaderos também não querem falar, porque os seus touros podem ser vetados das corridas”.

De facto, o Correio da Manhã contactou um criador cuja resposta foi lapidar: “nunca ouvi falar em nada nem ninguém me drogou touros”. A dopagem de touros parece não ser um problema exclusivamente nacional. “Em Espanha fala-se na utilização de tranquilizantes por inalação”, diz o ganadero cujos touros já foram drogados.

ANIMAIS MAIS DÓCEIS

Diz a Polícia Judiciária e o ganadero contactado pelo Correio da Manhã, a quem já drogaram touros, que a utilização do Rompun e do Calmivet são tranquilizantes utilizados para tornar os touros mais fáceis de tourear. E o secretário-técnico da Associação Portuguesa de Criadores de Touros de Lide admite que, “se forem aplicados em doses pequenas, podem ter esse efeito, mas (os medicamentos) têm sempre efeitos imprevisíveis”.

O Guia de Produtos Veterinários - Índice Nacional Veterinário, de 1995/96, inclui o Rompun no grupo dos sedativos e ansiolíticos destinados ao sistema nervoso cérebro-espinal. Ambos os medicamentos são aplicados nos animais através de injecção, com o recurso a dardos, por exemplo.

Rompun é um “sedativo, analgésico, anestésico e relaxante muscular para ovinos, bovinos, equinos, cães e gatos” indicado para o “transporte, habituação (à instalação ou ao trabalho), pesagem, mudança de pensos, inseminação artificial, reposição do prolapso uterino, do torsio uterino, bem como pré-anestésico para a aplicação de anestesia local ou endovenosa em casos de rumenotomia, cesariana”.

Esse medicamento animal “aplica-se ainda em amputação de chifres, unhas e tetas, castração, esterilização, cesariana em decúbito, extracção de dentes”. Pode ser também aplicado em “operações prolongadas e dolorosas”. O Calmivet Injectável, por seu lado, é indicado como “tranquilizante neuroplégico, regulador neuropsíquico".

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