sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Tourada, uma tradição sem futuro


Quem vendeu (e quem comprou) a mentira de que os animais não sofrem e de que não são possuidores de sentimentos, cometeu e disse uma mentira colossal e nada inteligente.

E se agora alguém nos agarrasse e privasse da nossa liberdade? E se alguém se apoderasse da nossa vida, como se faz a um mero objecto pessoal, e nos torturasse? E se alguém nos levasse para um ambiente estranho e nos humilhasse, tratando-nos como um corpo sem alma? E se alguém nos matasse, a troco de umas meras palmas, desprovidas de qualquer sentimento de compaixão e de piedade? E se nos fizessem isto tudo em nome de uma tradição sanguinária e sem escrúpulos, cujo nome é conhecido por tourada? Tenho mais uma pergunta: gostariam de estar nesta situação? Eu respondo: não!

E os touros? Gostariam de estar nesta situação, ou será que são animais que retiram prazer da dor e, como tal, são sadomasoquistas? Eu volto a responder: não! Pois bem, é deste modo que eu classifico as touradas: uma tradição violenta, medieval e completamente desajustada da “suposta” evolução do homem e das sociedades.

Se nós, humanos, seres sencientes, não somos (não somos, não devemos, não podemos…) expostos a actos violentos para fins de lazer, porque é que os outros animais, também eles sencientes, podem estar sujeitos a barbaridades destas? Quem vendeu (e quem comprou) a grande mentira de que os animais não sofrem e de que não são possuidores de sentimentos, cometeu e disse uma mentira colossal e nada inteligente.

Apesar de não ser necessário, realizaram-se inúmeras investigações científicas para mostrar àqueles que têm um campo de visão estreito que, de facto, os animais não humanos (neste caso, os touros) são sensíveis à dor, têm sentimentos e, como tal, não devem ser usados e abusados com o intuito de alimentar a maldade interminável de alguns seres humanos.

Muitas vezes, nós, os defensores da abolição das touradas (em Portugal e no resto do mundo), somos acusados de sermos extremistas. Pois bem, para mim, extremismo é defender um “espectáculo” que junta e atrai pessoas para assistir à morte e humilhação pública de um animal, numa “luta” desigual e cobarde.

E o que dizer de um país que subsidia uma actividade que viola o direito dos animais? Portugal tem centenas de milhares de desempregados, famílias a passar fome, idosos a morrer sozinhos em casa, crianças sem material escolar, artistas (artistas a sério, daqueles que conseguem emocionar as pessoas sem terem de recorrer a uma bandarilha) que não têm trabalho... Torturar um animal é mais importante que tudo isto? Felizmente, cada vez há mais pessoas activas e cientes da decadência e obscuridade desta prática selvagem, ao mesmo tempo que as praças de touros vão estando cada vez mais vazias.

É tempo de acabar com este atraso cultural e deixar esta tradição viver apenas nos livros de História. Chega de vitimar touros, cavalos e pessoas em nome de uma prática sem defesa. É hora de darmos as mãos e liquidar toda esta violência gratuita (contra um ser que apenas se limitou a nascer), promovendo uma atitude de respeito pelos outros seres vivos que partilham o universo connosco. Juntos, chegaremos à abolição!

in  p3.publico

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