Argumentos inválidos quanto às touradas
Alguns argumentos são usados frequentemente, mas são inválidos.
A FAVOR:
As touradas não são apresentadas com o termo "Festa Nacional" sem razão, porque representam a essência de Portugal e Espanha. As acções contra as touradas são certamente resultante de sentimentos anti-nacionalistas.
CONTRA:
É completamente arbitrário identificar Portugal e Espanha com uma tradição específica. Um número crescente de portugueses e espanhóis opõem-se às touradas e portanto não se podem considerar identificados por ela. Pode-se até afirmar o contrário: Quem realmente gosta de Portugal e de Espanha, anseia que a "Vergonha Nacional", como "a festa" é chamada pelos seus opositores, seja totalmente ABOLIDA.
A FAVOR:
Os touros bravos são apenas criados pelas suas qualidades de lide. A abolição das touradas significaria a perda definifitiva duma espécie animal com características únicas.
CONTRA:
Os animais não ganham nada com a conservação da sua espécie se sofrem severamente por a ela pertencerem.
A FAVOR:
Deus criou os touros para lutarem na praça de touros com o toureiro e assim morrerem.
CONTRA:
Demonstra muita pretensão falar em nome de Deus sobre a finalidade dos animais.
A FAVOR:
As touradas têm uma dimensão religiosa, representando a luta do bem e do mal, sendo os touros os representantes do mal.
CONTRA:
Celebrações religiosas não são uma bula que permita reduzir os animais a um símbolo.
A FAVOR:
Uma tourada permite uma saudável descarga colectiva de sentimentos negativos e de agressividade
CONTRA:
Existem alternativas inofensivas (por exemplo o desporto) para uma tal descarga, e que não implicam sofrimentos para os animais.
A FAVOR:
Uma tourada não é para ser vista como um desporto, mas como uma síntese de arte, dança, e dizem os aficionados, virilidade extrema (machismo).
CONTRA:
Que se possam ver nela outros aspectos, não faz que a sua crueldade seja menos cruel.
A FAVOR:
Uma tourada é uma prova de veneração e uma homenagem à força do animal.
CONTRA:
Veneração e homenagens não são prestadas ou mostradas por meio de torturas.
A FAVOR:
Um touro é tratado muito melhor até ser lidado do que um boi que foi criado pela bio-indústria apenas para produção de carne.
CONTRA:
Pode ser verdade mas não é um argumento válido porque por existirem condições ainda mais cruéis não se torna esta menos cruel.
A FAVOR:
A tourada é um componente duma cultura, uma tradição milenar. Representa o último vestígio de culturas antiqissímas não-ocidentais. Querer excomunhá-la demonstra desprezo por este elemento não-ocidental no seio da cultura espanhola.
CONTRA:
Todas as culturas ocidentais ou não ocidentais contêm tradições construtivas e destrutivas. A antiguidade duma tradição não pode servir para a justificar moralmente.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
quarta-feira, 30 de maio de 2012
Touradas, garraiadas e (pseudo-)tradições: feminismo faz pega de caras ao patriarcado
Contra as touradas, contra garraiadas, contra abusos.
Estas tradições e outras pseudo-tradições peguêmo-las de caras.
O garbo, a pose, o traje de luzes! O cheiro a sangue a borbotar do cachaço do touro ferido pela espada, pelas bandarilhas. O homem macho feito espetáculo. Que melhor nome podia ter? O marialva, o matador. O touro bravo, a natureza bruta, dominada, jaz aos pés.
Versão mais soft(?), sem morte do animal. À vista. Morte assegurada, muitas horas mais tarde, fora da arena. Versão espetáculo do sofrimento de animais, de todas as maneiras. Dos touros, mas também dos cavalos treinados para enfrentar outro animal, tornado inimigo pela tourada.
O dicionário define garraio: 1. Touro novo (que ainda não foi corrido). 2. [Figurado] Homem inexperiente.i
Touro não é animal em estado natural. É produto de apuramento genético para fabricar animal de aspeto fero, inimigo-ator, animal-espetáculo, animal-para-morrer. Produto, portanto, mais que animal. Garraio: produto incipiente na linha de produção, pretérito do produto final.
Homem domina animal, civilização domina natureza – duplamente. Recria-a por capricho, cria-a para morrer à mão. Tradição ancestral. Imagem dum passado em caixilho dourado, pechisbeque. História-mito, almofada onde adormece a consciência do animal humano para esquecer que o é, para ascender a diferente, superior animal com direito à vida e à morte de todos os outros. Mito caprichado da supremacia. Retirado da natureza, estádio vil em que animal mata animal para comer.
Dentro da civilização duma natureza-objeto, no abuso por gozo puro, requinte cultural do homem-macho. Natureza criada pelo patriarcado e pelo industrialismo à sua própria imagem. No mundo há muitas outras naturezas. A tradição estava criada. A tradição está servida.
Praxe académica, garraiada, queima-das-fitas.
Garraiada vai bem com praxe. Praxe também é tradição, ou não? Faz-se correr animal jovem (também podia ter sido aluno, como antigamente, outro garraio), enquanto outros maltratam, batem, puxam o rabo. Não o fariam se fosse outro animal, talvez. Garraio existe para ser garraiado. Caloiro existe para ser praxado.
Morreu? Foi sem querer. Bicho é coisa, bicho é não-homem, bicho é apenas natureza. Feito para isso. Homem-macho opõe-se a bicho, não tem 'coisas' por animais, não é abichanado. Civilização é homem-macho.
Praxe rima com abuso. Praxe rima com macho.
Abusos sobre raparigas? Não é praxe, é exagero. Acontece é muito.
A tradição reinventa-se, justifica-se todos os dias. Ou transforma-se.
Que tem feminismo a ver com touradas e garraiadas? Tem tudo.
O pensamento feminista associa natureza e humanidade, não as opõe. Forjado na luta contra a opressão de género, opõe-se a todo o género de opressões. Contesta a história patriarcal, as tradições de negar direitos, de naturalizar maus-tratos. Celebra a reinvenção do quotidiano, sonha outras tradições.
Contra as touradas, contra garraiadas, contra abusos.
Estas tradições e outras pseudo-tradições peguêmo-las de caras.
________________________________
i Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
ii Haraway, Donna. 1994. “Teddy bear patriarchy: taxidermy in the garden of Eden, New York city, 1908-1936.” P. 49-95 in Culture power history: a reader in contemporary social theory, edited by Nicholas B. Dirks, Geoff Eley, and Sherry B. Ortner. Princeton, N.J.: Princeton University Press.: Princeton University.
iii Coelho, Ricardo. 2012. A praxe como escola de vida. Esquerda.net. 22 abril.
iv Frias, Aníbal. 2003. “Praxe académica e culturas universitárias em Coimbra. Lógicas das tradições e dinâmicas identitárias.” Revista Crítica de Ciências Sociais, 2003 (66, Outubro):81-116.
por Paula Sequeiros
Investigadora em sociologia da cultura
Estas tradições e outras pseudo-tradições peguêmo-las de caras.
O garbo, a pose, o traje de luzes! O cheiro a sangue a borbotar do cachaço do touro ferido pela espada, pelas bandarilhas. O homem macho feito espetáculo. Que melhor nome podia ter? O marialva, o matador. O touro bravo, a natureza bruta, dominada, jaz aos pés.
Versão mais soft(?), sem morte do animal. À vista. Morte assegurada, muitas horas mais tarde, fora da arena. Versão espetáculo do sofrimento de animais, de todas as maneiras. Dos touros, mas também dos cavalos treinados para enfrentar outro animal, tornado inimigo pela tourada.
O dicionário define garraio: 1. Touro novo (que ainda não foi corrido). 2. [Figurado] Homem inexperiente.i
Touro não é animal em estado natural. É produto de apuramento genético para fabricar animal de aspeto fero, inimigo-ator, animal-espetáculo, animal-para-morrer. Produto, portanto, mais que animal. Garraio: produto incipiente na linha de produção, pretérito do produto final.
Homem domina animal, civilização domina natureza – duplamente. Recria-a por capricho, cria-a para morrer à mão. Tradição ancestral. Imagem dum passado em caixilho dourado, pechisbeque. História-mito, almofada onde adormece a consciência do animal humano para esquecer que o é, para ascender a diferente, superior animal com direito à vida e à morte de todos os outros. Mito caprichado da supremacia. Retirado da natureza, estádio vil em que animal mata animal para comer.
Dentro da civilização duma natureza-objeto, no abuso por gozo puro, requinte cultural do homem-macho. Natureza criada pelo patriarcado e pelo industrialismo à sua própria imagem. No mundo há muitas outras naturezas. A tradição estava criada. A tradição está servida.
«Civilização, obviamente, refere-se a um padrão complexo de dominação de pessoas e de toda a gente (todas as coisas) mais, atribuído frequentemente à tecnologia – fantasiada como «a Máquina». Natureza é um símbolo tão potente de inocência em parte porque 'ela' é imaginada como privada de tecnologia, para ser o objeto da visão e assim uma fonte tanto de saúde como de pureza. Homem não está na natureza em parte porque não é visto, não é espetáculo».ii
Praxe académica, garraiada, queima-das-fitas.
«A praxe, enquanto ritual iniciático, transmite todo o tipo de valores reacionários. Valores como a submissão, o sexismo, a homofobia e o corporativismo são exaltados, numa 'escola de vida' na qual se ensina a supressão do pensamento crítico, a obediência cega à ordem estabelecida e a necessidade de impor hierarquias de tipo militarista na sociedade». iii
Garraiada vai bem com praxe. Praxe também é tradição, ou não? Faz-se correr animal jovem (também podia ter sido aluno, como antigamente, outro garraio), enquanto outros maltratam, batem, puxam o rabo. Não o fariam se fosse outro animal, talvez. Garraio existe para ser garraiado. Caloiro existe para ser praxado.
Morreu? Foi sem querer. Bicho é coisa, bicho é não-homem, bicho é apenas natureza. Feito para isso. Homem-macho opõe-se a bicho, não tem 'coisas' por animais, não é abichanado. Civilização é homem-macho.
Praxe rima com abuso. Praxe rima com macho.
Abusos sobre raparigas? Não é praxe, é exagero. Acontece é muito.
«A contestação da Praxe em Portugal não é coisa recente. Em textos que datam da primeira metade do século XVIII, já alguns estudantes atacam, por vezes em forma versificada, as assuadas rituais ou verbais: canelões e investidas».iv
A tradição reinventa-se, justifica-se todos os dias. Ou transforma-se.
Que tem feminismo a ver com touradas e garraiadas? Tem tudo.
O pensamento feminista associa natureza e humanidade, não as opõe. Forjado na luta contra a opressão de género, opõe-se a todo o género de opressões. Contesta a história patriarcal, as tradições de negar direitos, de naturalizar maus-tratos. Celebra a reinvenção do quotidiano, sonha outras tradições.
Contra as touradas, contra garraiadas, contra abusos.
Estas tradições e outras pseudo-tradições peguêmo-las de caras.
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i Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
ii Haraway, Donna. 1994. “Teddy bear patriarchy: taxidermy in the garden of Eden, New York city, 1908-1936.” P. 49-95 in Culture power history: a reader in contemporary social theory, edited by Nicholas B. Dirks, Geoff Eley, and Sherry B. Ortner. Princeton, N.J.: Princeton University Press.: Princeton University.
iii Coelho, Ricardo. 2012. A praxe como escola de vida. Esquerda.net. 22 abril.
iv Frias, Aníbal. 2003. “Praxe académica e culturas universitárias em Coimbra. Lógicas das tradições e dinâmicas identitárias.” Revista Crítica de Ciências Sociais, 2003 (66, Outubro):81-116.
por Paula Sequeiros
Investigadora em sociologia da cultura
sexta-feira, 25 de maio de 2012
O sonho de matar na arena
Visitámos as três principais escolas de toureio do País, onde se treina para um objectivo difícil: ser matador de touros.
Aos 16 anos, Diogo Peseiro não tem grandes dúvidas sobre a sua vocação: "O toureio é uma arte que eu amo. Desde sempre que está presente no meu corpo". Começou a aprender as lides do toureio apeado aos cinco anos, mas uma operação cirúrgica fê-lo parar por algum tempo. Agora aposta tudo no desejo de ser matador. "Entrei na Academia do Campo Pequeno há um ano e tenho sentido uma grande evolução. A escola está a dar-me excelentes oportunidades para concretizar os meus sonhos."
Diogo faz parte do grupo de cerca de 20 alunos que aprende na Academia de Toureio do Campo Pequeno, em Lisboa. Sob a orientação dos maestros Rui Bento Vasques e José Luís Gonçalves, ambos antigos matadores, jovens dos oito aos 21 anos lutam por um lugar na arena, onde sabem que só os melhores conseguem chegar. "Sabemos que a maior parte destes jovens não vai chegar a matadores. É um mundo muito competitivo e as oportunidades são poucas. Mas, pelo menos, temos a certeza de que vão sair daqui novos aficionados da festa brava, que ajudarão a que esta arte continue viva em Portugal", explica o maestro José Luís Gonçalves, de 46 anos, que se retirou em 2010.
ESCOLAS UNIDAS
Os jovens talentos do toureio a pé têm agora uma nova oportunidade de se mostrarem ao grande público. A Academia do Campo Pequeno juntou-se à Escola José Falcão, de Vila Franca de Xira, e à Escola de Toureio da Moita para fazerem uma série de 12 novilhadas integradas em corridas de touros. A primeira acontece já este domingo, dia 6 de Maio, em Vila Franca de Xira. Ao longo da temporada, as novilhadas vão passar pelas praças da Moita (26 de Maio), Arruda dos Vinhos, Salvaterra de Magos, Montijo (todas em Junho), Alcochete, Coruche, Caldas da Rainha (Agosto), Montemor-o-Novo, Nazaré e Sobral de Monte Agraço (Setembro). A grande final acontece no Campo Pequeno, em Lisboa, a 27 de Setembro.
Por estes dias, os alunos das três escolas intensificam os treinos para mostrar a sua galhardia na arena. Em Vila Franca de Xira, a Escola José Falcão é a mais antiga do País. Fundada em 1984, usa o nome de um dos maiores matadores de touros portugueses. José Falcão morreu em 1974, mas o seu nome perdura na memória dos aficionados.
Hoje, os oito alunos da escola têm por maestro Vítor Mendes, matador ainda no activo, com uma carreira de quase 40 anos nas arenas. Tal como nas outras escolas, o treino de salão (na arena, com modelos que simulam o touro) completa-se com visitas ao campo. É nos tentaderos - sessões organizadas pelas ganadarias em que os novilhos são postos à prova para se testar a sua bravura - que os jovens toureiros têm as primeiras oportunidades de enfrentar um animal.
TOUROS NO CAMPO
A Herdade da Adema, propriedade da famosa ganadaria Palha, foi o cenário de um desses tentaderos, em que participaram cinco alunos da Escola José Falcão. Na presença do maestro Vítor Mendes e de um matador espanhol, entre outros convidados, Tiago Santos, de 19 anos, foi um dos que teve oportunidade de tourear na arena da herdade. "Comecei aos 11 anos, quando o meu pai me levou à escola do Montijo. Hoje estou na categoria de novilheiro sem picadores, mas espero chegar ainda este ano a novilheiro com picadores." O próximo degrau é ser matador de touros. Então poderá trocar os novilhos (touros com menos de três anos) por animais adultos e peso superior.
Em Espanha - pátria incontornável para quem quer fazer uma carreira no toureio a pé -, os jovens têm a oportunidade de ir à arena e matar novilhos desde cedo. Tiago Santos aproveita todas as oportunidades. "No ano passado fiz 20 corridas. Toureei em Espanha, França e na América." São 32 os animais que morreram às suas mãos. "Matar um touro é uma mistura de vários sentimentos. Sentimos que nos superamos a nós próprios, é inexplicável." Apesar da muita experiência acumulada, Tiago não sabe ainda quando poderá ascender à categoria de matador: "Este é um mundo mais de vencidos do que de vencedores. Chegar a matador é sentir-se preparado. É preciso estar à altura." Com o 12º ano feito, aposta tudo na carreira tauromáquica. Não põe de parte a ideia de ir para a universidade, mas para já concentra-se nos touros.
Vítor Mendes é severo com Tiago na arena. Corrige-o à frente de todos, irrita-se quando o vê fazer gestos incorrectos. No final, explica que não há espaço para paternalismo ou paninhos quentes no toureio. "Só somos exigentes com aqueles que têm talento. Para se ser matador é preciso procurar a perfeição."
Outro aluno da Escola José Falcão é Pedro Noronha, de 17 anos (que estará hoje na corrida de Vila Franca de Xira). Nascido em Lisboa, conta que desde pequeno vai às corridas com os pais. Entrou na Escola José Falcão em Setembro de 2007 e hoje é novilheiro sem picadores. "Desde pequeno que gosto da arte do toureio a pé." Já fez novilhadas e espectáculos de variedades taurinas, mas ainda não teve oportunidade de matar um novilho: "Sei que esse dia virá". Pedro sublinha a importância das visitas às ganadarias: "Podemos estar mais perto do touro e ver o seu comportamento no campo. Temos também a oportunidade de tourear um animal, o que é fundamental para a nossa formação."
DO CAVALO PARA O CHÃO
Foi para conhecer melhor os terrenos do touro que Maria Mira, de 21 anos, entrou para a Academia do Campo Pequeno. "Comecei por tourear a cavalo em 2007. Neste momento sou praticante. Sempre gostei muito do toureio a pé e para mim é essencial saber tourear a pé para fazê-lo bem a cavalo", explica. Maria aprendeu a montar com o pai, mas demorou até que os pais se convencessem da sua vontade. "Sempre disse que queria ser toureira, mas ninguém me levava a sério. Só quando fiz 16 anos é que o meu pai percebeu que estava mesmo convencida disto."
Maria Mira espera seguir os exemplos de Ana Batista e Sónia Matias, duas cavaleiras portuguesas que se impuseram num mundo normalmente associado a homens. "O meu grande objectivo é tirar a alternativa como cavaleira, mas não ponho de parte a hipótese de me dedicar ao toureio a pé. Veremos o que o futuro me reserva", explica esta estudante de Línguas, que vem de Évora todas as semanas para treinar no Campo Pequeno, em Lisboa.
TRADIÇÃO NA MOITA
Terra de aficionados, a Moita já teve várias escolas de toureio a pé. A Escola de Toureio e Tauromaquia da Moita abriu há um ano e conta com um filho da terra para ensinar os mais novos. Luís Procuna, de 29 anos, é matador há nove. Aprendeu ali na Moita e fez-se matador em Espanha, onde tirou a alternativa e onde passa grande parte do ano. "Para se ser matador é preciso passar por Espanha. Só lá se pode matar o touro na arena, é a pátria por excelência do toureio", explica o matador. Com a ajuda do bandarilheiro Júlio André, ensina aos cerca de 30 alunos as três artes do toureio a pé - o capote, as bandarilhas e a muleta. Esta última esconde a espada, usada para matar o touro na arena, manobra proibida em Portugal.
João Rodrigues, de 16 anos, é um dos jovens mais promissores da escola, numa terra que já formou matadores como Nuno Manuel ‘Velásquez' ou Sérgio Santos ‘Parrita'. Ambos tiveram de deixar a carreira de matadores pelas bandarilhas, sinal da extrema competitividade de uma profissão de elite. João dá os primeiros passos da sua caminhada: "Já participei em nove corridas, sempre em Portugal. Gostava de seguir esta arte e de ser um matador de touros." Nascido no Montijo, o irmão mais velho foi forcado mas abandonou a vida taurina. Empenha-se nos treinos, três vezes por semana, para alimentar o sonho de ser matador. "Sei que tenho de ir para Espanha para triunfar, mas estou preparado para isso."
Ainda não tem o traje de luzes, o fato que os toureiros levam à arena. Feito em Espanha, um traje custa entre três a seis mil euros. Um investimento grande que um toureiro terá de fazer para vingar num mundo em que se pode ganhar muito dinheiro, mas ao qual só os mais capazes têm acesso. João Rodrigues quer estar entre eles.
ESCOLA ESPANHOLA
O colega Diogo Damas, de 19 anos, fez um percurso diferente. Começou aos nove ano na Escola de Toureio da Azambuja (ainda em actividade). Há dois anos esteve na cidade espanhola de Badajoz, numa escola exclusivamente dedicada aos touros. "Lá era diferente. Éramos 90 alunos, treinávamos todos os dias, fazíamos muitos tentaderos e íamos à arena." Diogo aprendeu o que é ir à arena e enfrentar a apreciação do público. Matou novilhos em arena. "É uma sensação diferente, o público reage com muita intensidade ao que fazemos. Quando se mata um touro, submetemo-nos ao julgamento das bancadas. Se as pessoas acenarem um lenço branco, é sinal de que triunfámos. São-nos então dadas as orelhas do novilho. Se falharmos, o público guarda os lenços e saímos da arena sem nada. A mim aconteceu-me de tudo, houve dias melhore e outros piores."
As diferenças também se notam no treino: "Na escola espanhola somos treinados para entrar a matar, que é a parte mais difícil. Aqui o treino é mais diversificado, treinamos o capote, as bandarilhas e a muleta." Outra diferença é o modo como se tratam os animais: "Em Portugal não se pode picar o touro, e por isso a investida é muito mais bruta. Os touros picados em Espanha investem com mais suavidade, ficam mais fáceis de trabalhar", explica Diogo Damas.
GÉMEAS BEM DIFERENTES
Na arena da Moita destacam-se duas raparigas praticamente iguais. Paula e Ana Santos, de 13 anos, treinam na escola da Moita há um ano. Paula não tem dúvidas: "Eu quero ser matadora. Desde que me conheço que já não vejo outra coisa. Gosto muito disto". Conhece o pior lado do toureio a pé: "Já levei muitas cornadas. Custa, mas o importante é voltarmos." Apesar do ar franzino, já mostrou valentia a enfrentar vacas no campo. A irmã gémea está menos convencida. "Ainda não sei o quero fazer. Mas gosto mais de cavalos, se pudesse seria cavaleira. Ainda estou à procura de uma pessoa que me ensine."
Outra colega de escola mostra que as portas das arenas estão abertas às mulheres. Ana Marques, de 14 anos, também está na escola desde a abertura. Gosta das lides dos touros, mas para ela o futuro não será por ali. "Estou aqui para aprender mais. Sempre tive medo de touros, mas convidaram-me para vir experimentar e gostei. Mas não quero seguir esta carreira. Tenho medo de ser apanhada e ficar ferida e quero seguir carreira na representação." Uma cornada de uma vaca, uma voltareta na linguagem dos toureiros, deixou-lhe marcas no corpo e na mente. "Fiquei com uma grande nódoa negra nas costas, os meus colegas de escola disseram-me que eu era maluca por andar aqui." O seu futuro não deverá passar pelas arenas, mas garante que a aprendizagem do toureio vai deixar marcas: "O gosto pelas corridas de touros vai durar sempre."
O maestro Luís Procuna sublinha a importância de haver raparigas a querer aprender. "É muito bom, até para as mulheres verem que o mundo das touradas não está fechado nos homens. Há muitas mulheres de classe nas arenas." A espanhola Maria Paz Vega é hoje a mais conhecida matadora de touros. Em Portugal, há muito que não se vê uma mulher tourear a pé. Os mais velhos lembram Ana Mendia, da Azambuja, que brilhou nas arenas nos anos 70.
Na escola estão desde crianças de seis anos a adolescentes à beira da maioridade. As taurinhas - estruturas com cabeça de touro e rodas de bicicleta usadas para treinar as manobras com os touros - fazem as delícias dos mais novos, mas o treino é exigente para todos. "Fazemos treino físico durante uma hora e mais duas de exercícios com os pitons (cornos) e as taurinhas. Há três treinos por semana, mas no Verão abrimos a praça todos os dias. É fundamental estar no melhor da forma", explica o bandarilheiro Júlio André, um dos professores da escola da Moita.
ARTE CONTESTADA
Nos últimos anos cresceram os movimentos que defendem o fim das touradas, vistas por estes militantes como um espectáculo cruel para com os animais. Os que agora se iniciam no toureio sabem que aquilo que fazem é criticado por muitos, mas isso não os demove. Tiago Santos, da Escola José Falcão, pede mais respeito a quem contesta as touradas: "Eu percebo porque é que há pessoas que dizem que a tourada é um espectáculo bárbaro. Estão no seu direito. Desde que não tentem prejudicar-me a mim e aos meus não me importa. Mas gostava que as pessoas percebessem a razão das coisas. Era bom que procurassem entender esta arte. Há quem prefira a morte do toureiro à morte do touro e isso não posso aceitar."
Em Espanha e em Portugal várias vilas e cidades declaram-se antitaurinas. Vítor Mendes tirou a alternativa como toureiro em Barcelona, praça hoje fechada. "É uma questão política, mas tenho a certeza de que a praça vai reabrir em breve", diz o matador português.
Luís Procuna aponta a fraca capacidade de resposta do mundo taurino aos ataques de que têm sido alvos. "Os movimentos de defesa dos animais estão unidos na contestação. Nós, que vivemos da tourada, pouco fazemos para nos unirmos na sua defesa. Fala-se muito, mas faz-se pouco para responder aos ataques."
Ninguém espera que em Portugal se altere a lei que proíbe a morte dos animais na arena. Quem quer ser matador tem de ir para Espanha. O sul de França e os países da América Latina são uma extensão natural de um mercado que conta com milhões de aficionados. Em Portugal, o toureio a pé tem perdido terreno para os cavaleiros e forcados. "Não é possível fazer mais de 25 corridas por ano. Espero que venha uma nova geração que possa contribuir para mudar as coisas", diz o matador Luís Procuna.
"O MAIS IMPORTANTE É FORMAR AFICIONADOS"
(Vítor Mendes, 54 anos, matador de touros desde 1974, ensina na escola José Falcão)
Nasce-se matador ou treina-se para se ser matador?
- Creio que se nasce matador. Para se chegar ao nível mais alto tem de ser ter uma qualidade e um talento inatos. O resto faz-se pela aprendizagem.
Estamos a viver uma crise de novos valores no toureio a pé?
- Para descobrirmos novos talentos temos de ir à mina e escavar à procura de pedras preciosas. É preciso criarem--se oportunidades. Dos 40 miúdos que estão inscritos nas escolas de Portugal, julgo que haverá quatro ou cinco com qualidade para chegarem mais longe. Houve uma sequência no toureio a cavalo, em que as novas gerações sucederam às anteriores. No toureio a pé surgiram três ou quatro nomes, que por uma série de razões acabaram por não vingar.
Os jovens percebem que estão a querer entrar num mundo altamente competitivo, que os obriga a ir para Espanha?
- Não podemos olhar só para as escolas de toureio com o objectivo de formar novos profissionais. Estamos a formar jovens com conhecimento do toureio, o que é muito importante. Importa que sejam bons aficionados e que se entusiasmem com os touros.
Como tem corrido esta nova experiência como formador?
- Aqueles que chegam à escola têm origens sociais e valores muito distintos entre si. Tem sido gratificante verificar o empenho deles em aprender.
NOTAS
CICLO
As 12 novilhadas levam às arenas os alunos das três principais escolas portuguesas.
ESCOLAS
Na Azambuja e em Alter do Chão também existem escolas que ensinam as artes do toureio.
ESPANHA
Nas academias espanholas, os jovens estão em regime de internato. Dedicam todo os dias aos touros.
Aos 16 anos, Diogo Peseiro não tem grandes dúvidas sobre a sua vocação: "O toureio é uma arte que eu amo. Desde sempre que está presente no meu corpo". Começou a aprender as lides do toureio apeado aos cinco anos, mas uma operação cirúrgica fê-lo parar por algum tempo. Agora aposta tudo no desejo de ser matador. "Entrei na Academia do Campo Pequeno há um ano e tenho sentido uma grande evolução. A escola está a dar-me excelentes oportunidades para concretizar os meus sonhos."
Diogo faz parte do grupo de cerca de 20 alunos que aprende na Academia de Toureio do Campo Pequeno, em Lisboa. Sob a orientação dos maestros Rui Bento Vasques e José Luís Gonçalves, ambos antigos matadores, jovens dos oito aos 21 anos lutam por um lugar na arena, onde sabem que só os melhores conseguem chegar. "Sabemos que a maior parte destes jovens não vai chegar a matadores. É um mundo muito competitivo e as oportunidades são poucas. Mas, pelo menos, temos a certeza de que vão sair daqui novos aficionados da festa brava, que ajudarão a que esta arte continue viva em Portugal", explica o maestro José Luís Gonçalves, de 46 anos, que se retirou em 2010.
ESCOLAS UNIDAS
Os jovens talentos do toureio a pé têm agora uma nova oportunidade de se mostrarem ao grande público. A Academia do Campo Pequeno juntou-se à Escola José Falcão, de Vila Franca de Xira, e à Escola de Toureio da Moita para fazerem uma série de 12 novilhadas integradas em corridas de touros. A primeira acontece já este domingo, dia 6 de Maio, em Vila Franca de Xira. Ao longo da temporada, as novilhadas vão passar pelas praças da Moita (26 de Maio), Arruda dos Vinhos, Salvaterra de Magos, Montijo (todas em Junho), Alcochete, Coruche, Caldas da Rainha (Agosto), Montemor-o-Novo, Nazaré e Sobral de Monte Agraço (Setembro). A grande final acontece no Campo Pequeno, em Lisboa, a 27 de Setembro.
Por estes dias, os alunos das três escolas intensificam os treinos para mostrar a sua galhardia na arena. Em Vila Franca de Xira, a Escola José Falcão é a mais antiga do País. Fundada em 1984, usa o nome de um dos maiores matadores de touros portugueses. José Falcão morreu em 1974, mas o seu nome perdura na memória dos aficionados.
Hoje, os oito alunos da escola têm por maestro Vítor Mendes, matador ainda no activo, com uma carreira de quase 40 anos nas arenas. Tal como nas outras escolas, o treino de salão (na arena, com modelos que simulam o touro) completa-se com visitas ao campo. É nos tentaderos - sessões organizadas pelas ganadarias em que os novilhos são postos à prova para se testar a sua bravura - que os jovens toureiros têm as primeiras oportunidades de enfrentar um animal.
TOUROS NO CAMPO
A Herdade da Adema, propriedade da famosa ganadaria Palha, foi o cenário de um desses tentaderos, em que participaram cinco alunos da Escola José Falcão. Na presença do maestro Vítor Mendes e de um matador espanhol, entre outros convidados, Tiago Santos, de 19 anos, foi um dos que teve oportunidade de tourear na arena da herdade. "Comecei aos 11 anos, quando o meu pai me levou à escola do Montijo. Hoje estou na categoria de novilheiro sem picadores, mas espero chegar ainda este ano a novilheiro com picadores." O próximo degrau é ser matador de touros. Então poderá trocar os novilhos (touros com menos de três anos) por animais adultos e peso superior.
Em Espanha - pátria incontornável para quem quer fazer uma carreira no toureio a pé -, os jovens têm a oportunidade de ir à arena e matar novilhos desde cedo. Tiago Santos aproveita todas as oportunidades. "No ano passado fiz 20 corridas. Toureei em Espanha, França e na América." São 32 os animais que morreram às suas mãos. "Matar um touro é uma mistura de vários sentimentos. Sentimos que nos superamos a nós próprios, é inexplicável." Apesar da muita experiência acumulada, Tiago não sabe ainda quando poderá ascender à categoria de matador: "Este é um mundo mais de vencidos do que de vencedores. Chegar a matador é sentir-se preparado. É preciso estar à altura." Com o 12º ano feito, aposta tudo na carreira tauromáquica. Não põe de parte a ideia de ir para a universidade, mas para já concentra-se nos touros.
Vítor Mendes é severo com Tiago na arena. Corrige-o à frente de todos, irrita-se quando o vê fazer gestos incorrectos. No final, explica que não há espaço para paternalismo ou paninhos quentes no toureio. "Só somos exigentes com aqueles que têm talento. Para se ser matador é preciso procurar a perfeição."
Outro aluno da Escola José Falcão é Pedro Noronha, de 17 anos (que estará hoje na corrida de Vila Franca de Xira). Nascido em Lisboa, conta que desde pequeno vai às corridas com os pais. Entrou na Escola José Falcão em Setembro de 2007 e hoje é novilheiro sem picadores. "Desde pequeno que gosto da arte do toureio a pé." Já fez novilhadas e espectáculos de variedades taurinas, mas ainda não teve oportunidade de matar um novilho: "Sei que esse dia virá". Pedro sublinha a importância das visitas às ganadarias: "Podemos estar mais perto do touro e ver o seu comportamento no campo. Temos também a oportunidade de tourear um animal, o que é fundamental para a nossa formação."
DO CAVALO PARA O CHÃO
Foi para conhecer melhor os terrenos do touro que Maria Mira, de 21 anos, entrou para a Academia do Campo Pequeno. "Comecei por tourear a cavalo em 2007. Neste momento sou praticante. Sempre gostei muito do toureio a pé e para mim é essencial saber tourear a pé para fazê-lo bem a cavalo", explica. Maria aprendeu a montar com o pai, mas demorou até que os pais se convencessem da sua vontade. "Sempre disse que queria ser toureira, mas ninguém me levava a sério. Só quando fiz 16 anos é que o meu pai percebeu que estava mesmo convencida disto."
Maria Mira espera seguir os exemplos de Ana Batista e Sónia Matias, duas cavaleiras portuguesas que se impuseram num mundo normalmente associado a homens. "O meu grande objectivo é tirar a alternativa como cavaleira, mas não ponho de parte a hipótese de me dedicar ao toureio a pé. Veremos o que o futuro me reserva", explica esta estudante de Línguas, que vem de Évora todas as semanas para treinar no Campo Pequeno, em Lisboa.
TRADIÇÃO NA MOITA
Terra de aficionados, a Moita já teve várias escolas de toureio a pé. A Escola de Toureio e Tauromaquia da Moita abriu há um ano e conta com um filho da terra para ensinar os mais novos. Luís Procuna, de 29 anos, é matador há nove. Aprendeu ali na Moita e fez-se matador em Espanha, onde tirou a alternativa e onde passa grande parte do ano. "Para se ser matador é preciso passar por Espanha. Só lá se pode matar o touro na arena, é a pátria por excelência do toureio", explica o matador. Com a ajuda do bandarilheiro Júlio André, ensina aos cerca de 30 alunos as três artes do toureio a pé - o capote, as bandarilhas e a muleta. Esta última esconde a espada, usada para matar o touro na arena, manobra proibida em Portugal.
João Rodrigues, de 16 anos, é um dos jovens mais promissores da escola, numa terra que já formou matadores como Nuno Manuel ‘Velásquez' ou Sérgio Santos ‘Parrita'. Ambos tiveram de deixar a carreira de matadores pelas bandarilhas, sinal da extrema competitividade de uma profissão de elite. João dá os primeiros passos da sua caminhada: "Já participei em nove corridas, sempre em Portugal. Gostava de seguir esta arte e de ser um matador de touros." Nascido no Montijo, o irmão mais velho foi forcado mas abandonou a vida taurina. Empenha-se nos treinos, três vezes por semana, para alimentar o sonho de ser matador. "Sei que tenho de ir para Espanha para triunfar, mas estou preparado para isso."
Ainda não tem o traje de luzes, o fato que os toureiros levam à arena. Feito em Espanha, um traje custa entre três a seis mil euros. Um investimento grande que um toureiro terá de fazer para vingar num mundo em que se pode ganhar muito dinheiro, mas ao qual só os mais capazes têm acesso. João Rodrigues quer estar entre eles.
ESCOLA ESPANHOLA
O colega Diogo Damas, de 19 anos, fez um percurso diferente. Começou aos nove ano na Escola de Toureio da Azambuja (ainda em actividade). Há dois anos esteve na cidade espanhola de Badajoz, numa escola exclusivamente dedicada aos touros. "Lá era diferente. Éramos 90 alunos, treinávamos todos os dias, fazíamos muitos tentaderos e íamos à arena." Diogo aprendeu o que é ir à arena e enfrentar a apreciação do público. Matou novilhos em arena. "É uma sensação diferente, o público reage com muita intensidade ao que fazemos. Quando se mata um touro, submetemo-nos ao julgamento das bancadas. Se as pessoas acenarem um lenço branco, é sinal de que triunfámos. São-nos então dadas as orelhas do novilho. Se falharmos, o público guarda os lenços e saímos da arena sem nada. A mim aconteceu-me de tudo, houve dias melhore e outros piores."
As diferenças também se notam no treino: "Na escola espanhola somos treinados para entrar a matar, que é a parte mais difícil. Aqui o treino é mais diversificado, treinamos o capote, as bandarilhas e a muleta." Outra diferença é o modo como se tratam os animais: "Em Portugal não se pode picar o touro, e por isso a investida é muito mais bruta. Os touros picados em Espanha investem com mais suavidade, ficam mais fáceis de trabalhar", explica Diogo Damas.
GÉMEAS BEM DIFERENTES
Na arena da Moita destacam-se duas raparigas praticamente iguais. Paula e Ana Santos, de 13 anos, treinam na escola da Moita há um ano. Paula não tem dúvidas: "Eu quero ser matadora. Desde que me conheço que já não vejo outra coisa. Gosto muito disto". Conhece o pior lado do toureio a pé: "Já levei muitas cornadas. Custa, mas o importante é voltarmos." Apesar do ar franzino, já mostrou valentia a enfrentar vacas no campo. A irmã gémea está menos convencida. "Ainda não sei o quero fazer. Mas gosto mais de cavalos, se pudesse seria cavaleira. Ainda estou à procura de uma pessoa que me ensine."
Outra colega de escola mostra que as portas das arenas estão abertas às mulheres. Ana Marques, de 14 anos, também está na escola desde a abertura. Gosta das lides dos touros, mas para ela o futuro não será por ali. "Estou aqui para aprender mais. Sempre tive medo de touros, mas convidaram-me para vir experimentar e gostei. Mas não quero seguir esta carreira. Tenho medo de ser apanhada e ficar ferida e quero seguir carreira na representação." Uma cornada de uma vaca, uma voltareta na linguagem dos toureiros, deixou-lhe marcas no corpo e na mente. "Fiquei com uma grande nódoa negra nas costas, os meus colegas de escola disseram-me que eu era maluca por andar aqui." O seu futuro não deverá passar pelas arenas, mas garante que a aprendizagem do toureio vai deixar marcas: "O gosto pelas corridas de touros vai durar sempre."
O maestro Luís Procuna sublinha a importância de haver raparigas a querer aprender. "É muito bom, até para as mulheres verem que o mundo das touradas não está fechado nos homens. Há muitas mulheres de classe nas arenas." A espanhola Maria Paz Vega é hoje a mais conhecida matadora de touros. Em Portugal, há muito que não se vê uma mulher tourear a pé. Os mais velhos lembram Ana Mendia, da Azambuja, que brilhou nas arenas nos anos 70.
Na escola estão desde crianças de seis anos a adolescentes à beira da maioridade. As taurinhas - estruturas com cabeça de touro e rodas de bicicleta usadas para treinar as manobras com os touros - fazem as delícias dos mais novos, mas o treino é exigente para todos. "Fazemos treino físico durante uma hora e mais duas de exercícios com os pitons (cornos) e as taurinhas. Há três treinos por semana, mas no Verão abrimos a praça todos os dias. É fundamental estar no melhor da forma", explica o bandarilheiro Júlio André, um dos professores da escola da Moita.
ARTE CONTESTADA
Nos últimos anos cresceram os movimentos que defendem o fim das touradas, vistas por estes militantes como um espectáculo cruel para com os animais. Os que agora se iniciam no toureio sabem que aquilo que fazem é criticado por muitos, mas isso não os demove. Tiago Santos, da Escola José Falcão, pede mais respeito a quem contesta as touradas: "Eu percebo porque é que há pessoas que dizem que a tourada é um espectáculo bárbaro. Estão no seu direito. Desde que não tentem prejudicar-me a mim e aos meus não me importa. Mas gostava que as pessoas percebessem a razão das coisas. Era bom que procurassem entender esta arte. Há quem prefira a morte do toureiro à morte do touro e isso não posso aceitar."
Em Espanha e em Portugal várias vilas e cidades declaram-se antitaurinas. Vítor Mendes tirou a alternativa como toureiro em Barcelona, praça hoje fechada. "É uma questão política, mas tenho a certeza de que a praça vai reabrir em breve", diz o matador português.
Luís Procuna aponta a fraca capacidade de resposta do mundo taurino aos ataques de que têm sido alvos. "Os movimentos de defesa dos animais estão unidos na contestação. Nós, que vivemos da tourada, pouco fazemos para nos unirmos na sua defesa. Fala-se muito, mas faz-se pouco para responder aos ataques."
Ninguém espera que em Portugal se altere a lei que proíbe a morte dos animais na arena. Quem quer ser matador tem de ir para Espanha. O sul de França e os países da América Latina são uma extensão natural de um mercado que conta com milhões de aficionados. Em Portugal, o toureio a pé tem perdido terreno para os cavaleiros e forcados. "Não é possível fazer mais de 25 corridas por ano. Espero que venha uma nova geração que possa contribuir para mudar as coisas", diz o matador Luís Procuna.
"O MAIS IMPORTANTE É FORMAR AFICIONADOS"
(Vítor Mendes, 54 anos, matador de touros desde 1974, ensina na escola José Falcão)
Nasce-se matador ou treina-se para se ser matador?
- Creio que se nasce matador. Para se chegar ao nível mais alto tem de ser ter uma qualidade e um talento inatos. O resto faz-se pela aprendizagem.
Estamos a viver uma crise de novos valores no toureio a pé?
- Para descobrirmos novos talentos temos de ir à mina e escavar à procura de pedras preciosas. É preciso criarem--se oportunidades. Dos 40 miúdos que estão inscritos nas escolas de Portugal, julgo que haverá quatro ou cinco com qualidade para chegarem mais longe. Houve uma sequência no toureio a cavalo, em que as novas gerações sucederam às anteriores. No toureio a pé surgiram três ou quatro nomes, que por uma série de razões acabaram por não vingar.
Os jovens percebem que estão a querer entrar num mundo altamente competitivo, que os obriga a ir para Espanha?
- Não podemos olhar só para as escolas de toureio com o objectivo de formar novos profissionais. Estamos a formar jovens com conhecimento do toureio, o que é muito importante. Importa que sejam bons aficionados e que se entusiasmem com os touros.
Como tem corrido esta nova experiência como formador?
- Aqueles que chegam à escola têm origens sociais e valores muito distintos entre si. Tem sido gratificante verificar o empenho deles em aprender.
NOTAS
CICLO
As 12 novilhadas levam às arenas os alunos das três principais escolas portuguesas.
ESCOLAS
Na Azambuja e em Alter do Chão também existem escolas que ensinam as artes do toureio.
ESPANHA
Nas academias espanholas, os jovens estão em regime de internato. Dedicam todo os dias aos touros.
Veja o vídeo
Fonte
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segunda-feira, 21 de maio de 2012
"Touradas"
Do livro "Touradas", com prefácio do Dr. António Maria Pereira, pai dos Direitos Animais em Portugal(*)
"O touro é um animal que nasceu para ser toureado… não temos culpa…”
José Dias Paulo (embolador e fabricante de bandarilhas)
“Taking the Face: the portuguese bullfight” [Documentário] 2008
Trata-se de um retrato das actividades relacionadas com a luta dos pegadores de touros, filmadas um pouco por todo o País, durante cerca de dois anos.
No início de 2007, sou contactado pelo Sr. Juliusz Kossakowski, realizador deste filme, a fim de os Mordomos de Santo António deste ano, permitirem as filmagens das festas de Junho e Agosto, particularmente, as relacionadas com a Capeia e o Forcão.
Explanou a ideia, que era fazer um filme com as tradições dos pegadores de touros em Portugal, englobando também as nossas Capeias.
Todos os Mordomos, estivemos de acordo, oferecendo a melhor hospitalidade e colaboração em tudo aos nossos amigos visitantes, pela primeira vez nesta zona.
Ao longo de Junho e Agosto decorreram os trabalhos de recolha de imagem e testemunhos em Aldeia da Ponte, como fazendo parte deste filme, que vai ter a estreia mundial neste sábado, no antigo cinema Roma, com as restantes filmagens nas várias zonas do País, onde as tradições tauromáquicas estão mais implantadas, reportando-as neste filme, em que a nossa Aldeia tem a honra de estar representada.
O filme vai estrear agora, depois de um árduo trabalho dos realizadores e filmadores, levando um pouco da nossa Aldeia e do Concelho de Sabugal, por esse mundo fora.
Como todos sabem, as Capeias da Raia são fonte inesgotável de reportagens, permitindo colher imagens espectaculares todos os anos, chamando a atenção de muitos operadores, tanto nacionais como estrangeiros.
Esta é uma boa forma, entre muitas outras, de potenciarmos a nossa região, em termos de turismo, chamando cada vez mais visitantes à Raia e ao Concelho, por esta altura, pese embora, também haja quem não aprecie, por aí além, as Capeias. São opções, que têm de se respeitar, não pondo em causa, minimamente, o que já está entranhado no sangue, desde tempos bem longínquos e, que irá continuar, cada vez mais.
As gerações que aí despontam, mais o apreciam e se embrenham nesta tradição de muitos e muitos anos.
Transcrevemos, com a devida vénia, a descrição em Inglês, da ficha técnica do filme, do site www.takingtheface.com relativo a Aldeia da Ponte:
(*) Trata-se de um livro inédito no mercado editorial português: uma obra em que se assume abertamente uma postura anti-touradas. O livro, amplamente ilustrado com imagens fortes relativas ao espectáculo que se considera degradante, consta de um prefácio do Dr.António Maria Pereira, de poemas de M. Dulce Penaguião sobre as diversas facetas do espectáculo e, ainda, de uma breve resenha histórica da luta anti-touradas em Portugal, com especial incidência na própria Igreja Católica que chegou a emitir uma bula papal condenando e ameaçando de excomunhão quem participasse ou promovesse o espectáculo. Também é de realçar a postura de eminentes figuras do séc.XIX (Passos Manuel, que decretou a extinção num marco histórico do direito português, Castilho, Alexandre Herculano,entre outros, que em jornais e revistas assumiram abertamente o abolicionismo. O livro contém ainda excertos de uma recente acta da Câmara Municipal de Barcelona proibindo as touradas e a Declaração Universal dos Direitos dos Animais.
"O touro é um animal que nasceu para ser toureado… não temos culpa…”
José Dias Paulo (embolador e fabricante de bandarilhas)
“Taking the Face: the portuguese bullfight” [Documentário] 2008
Trata-se de um retrato das actividades relacionadas com a luta dos pegadores de touros, filmadas um pouco por todo o País, durante cerca de dois anos.
No início de 2007, sou contactado pelo Sr. Juliusz Kossakowski, realizador deste filme, a fim de os Mordomos de Santo António deste ano, permitirem as filmagens das festas de Junho e Agosto, particularmente, as relacionadas com a Capeia e o Forcão.
Explanou a ideia, que era fazer um filme com as tradições dos pegadores de touros em Portugal, englobando também as nossas Capeias.
Todos os Mordomos, estivemos de acordo, oferecendo a melhor hospitalidade e colaboração em tudo aos nossos amigos visitantes, pela primeira vez nesta zona.
Ao longo de Junho e Agosto decorreram os trabalhos de recolha de imagem e testemunhos em Aldeia da Ponte, como fazendo parte deste filme, que vai ter a estreia mundial neste sábado, no antigo cinema Roma, com as restantes filmagens nas várias zonas do País, onde as tradições tauromáquicas estão mais implantadas, reportando-as neste filme, em que a nossa Aldeia tem a honra de estar representada.
O filme vai estrear agora, depois de um árduo trabalho dos realizadores e filmadores, levando um pouco da nossa Aldeia e do Concelho de Sabugal, por esse mundo fora.
Como todos sabem, as Capeias da Raia são fonte inesgotável de reportagens, permitindo colher imagens espectaculares todos os anos, chamando a atenção de muitos operadores, tanto nacionais como estrangeiros.
Esta é uma boa forma, entre muitas outras, de potenciarmos a nossa região, em termos de turismo, chamando cada vez mais visitantes à Raia e ao Concelho, por esta altura, pese embora, também haja quem não aprecie, por aí além, as Capeias. São opções, que têm de se respeitar, não pondo em causa, minimamente, o que já está entranhado no sangue, desde tempos bem longínquos e, que irá continuar, cada vez mais.
As gerações que aí despontam, mais o apreciam e se embrenham nesta tradição de muitos e muitos anos.
Transcrevemos, com a devida vénia, a descrição em Inglês, da ficha técnica do filme, do site www.takingtheface.com relativo a Aldeia da Ponte:
«Aldeia da Ponte: A tiny village in the northern edge of Portugal where the festa of the forcao takes place in homage to Saint Anthony, an event that might have been conceived by Monty Python’s Flying Circus in which a giant multi-tanged wooden fork is manned by the village’s ex-patriate sons in a pitched battle with the sacrificial bull.»
(*) Trata-se de um livro inédito no mercado editorial português: uma obra em que se assume abertamente uma postura anti-touradas. O livro, amplamente ilustrado com imagens fortes relativas ao espectáculo que se considera degradante, consta de um prefácio do Dr.António Maria Pereira, de poemas de M. Dulce Penaguião sobre as diversas facetas do espectáculo e, ainda, de uma breve resenha histórica da luta anti-touradas em Portugal, com especial incidência na própria Igreja Católica que chegou a emitir uma bula papal condenando e ameaçando de excomunhão quem participasse ou promovesse o espectáculo. Também é de realçar a postura de eminentes figuras do séc.XIX (Passos Manuel, que decretou a extinção num marco histórico do direito português, Castilho, Alexandre Herculano,entre outros, que em jornais e revistas assumiram abertamente o abolicionismo. O livro contém ainda excertos de uma recente acta da Câmara Municipal de Barcelona proibindo as touradas e a Declaração Universal dos Direitos dos Animais.
domingo, 20 de maio de 2012
Ajudar crianças desfavorecidas com dinheiro da tortura de inocentes?
Mais uma vergonha para a nossa cidade e para quem precisa.
Não haverá outra forma de angariar fundos e recolha de bens essenciais???
Caridade e compaixão não se coadunam com Tortura!
Desta vez será um tentadero na taurinissima praça de tentas do Cabo em Vila Franca de Xira para angariar de bens essenciais, destinados a ajudar crianças carenciadas até aos 12 anos de idade da freguesia de Vila Franca de Xira.
Esta campanha decorrerá entre os dias 19 de Maio e 23 de Junho.
Fonte: Clube Taurino (*)
DESDE QUANDO A TORTURA DE TOUROS PODE JUSTIFICAR UMA CARIDADEZINHA TRAIÇOEIRA?...
Nos tempos que correm, os taurinos fizeram disto uma “moda”. Parecem aquelas SEITAS que se aproveitam de um estado de crise para se implantarem na sociedade e enganarem as pessoas, com ajudas falsificadas. E porque o desespero dos desafortunados é tanto, deixam-se levar pela conversa peçonhenta dos traiçoeiros, e quando dão conta, já nada há a fazer. Estão enterrados na abjecção, até ao pescoço.
Dos taurinos, tudo é possível, pois é sabido que a tauromaquia é uma doença mental grave, contagiosa, para a qual já há cura, e que está em franco avanço.
Agora, que as pessoas ditas normais aceitem a “caridade” de MATADORES, sabendo que os produtos, que receberão, virão com o cheiro forte do SANGUE DE TOUROS TORTURADOS, isso já é ser tão MÓRBIDAS quanto os taurinos.
Este cartaz, cheio de erros, a descambar para o espanholado (o que eles chamam "tradição” é tão portuguesa que nem sequer têm palavras portuguesas para designar as 'coisas' tauromáquicas) diz não só da enorme IGNORÂNCIA dos promotores, como da vergonhosa caridadezinha traiçoeira nele contida.
Venham mais destas. Os abolicionistas agradecem. E os Touros e os Cavalos também.
(*)
Tentadero/Tentadeiro - arena
Tentas - sessões organizadas pelas ganadarias em que os novilhos são postos à prova para se testar a sua bravura.
É um espanholismo do âmbito da tauromaquia muito usado em Portugal.
«Tentadero» traduz-se por tenta: «curral fechado para experimentar a bravura dos bezerros» (in Dicionário Espanhol-Português da Porto Editora, coordenado por Álvaro Iriarte Sanróman);
«Lugar cercado, geralmente em forma circular, onde se procede às tentas do gado e onde o mesmo se ferra.» (in Grande Dicionário da Língua Portuguesa coordenado por José Pedro Machado)
«Tenta» é a «lide especial para observação da bravura de novilhos ou novilhas, pouco tempo depois da ferra» (in Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora). Nenhum dicionário confirma que «tenta» é também o local onde se realiza essa lide.
Foto retirada de 'Tenta', onde se pode ver a sequência da queda do cavalo.
Não haverá outra forma de angariar fundos e recolha de bens essenciais???
Caridade e compaixão não se coadunam com Tortura!
Tentadero do Cabo abre as suas portas para um tentadeiro integrado na recolha de bens essenciais, para ajudar crianças desfavorecidas da freguesia de Vila Franca de Xira.
Realiza-se no próximo dia 9 de Junho pelas 16 horas mais uma iniciativa organizada pelo Clube Taurino Vilafranquense.Desta vez será um tentadero na taurinissima praça de tentas do Cabo em Vila Franca de Xira para angariar de bens essenciais, destinados a ajudar crianças carenciadas até aos 12 anos de idade da freguesia de Vila Franca de Xira.
Esta campanha decorrerá entre os dias 19 de Maio e 23 de Junho.
Fonte: Clube Taurino (*)
DESDE QUANDO A TORTURA DE TOUROS PODE JUSTIFICAR UMA CARIDADEZINHA TRAIÇOEIRA?...
Nos tempos que correm, os taurinos fizeram disto uma “moda”. Parecem aquelas SEITAS que se aproveitam de um estado de crise para se implantarem na sociedade e enganarem as pessoas, com ajudas falsificadas. E porque o desespero dos desafortunados é tanto, deixam-se levar pela conversa peçonhenta dos traiçoeiros, e quando dão conta, já nada há a fazer. Estão enterrados na abjecção, até ao pescoço.
Dos taurinos, tudo é possível, pois é sabido que a tauromaquia é uma doença mental grave, contagiosa, para a qual já há cura, e que está em franco avanço.
Agora, que as pessoas ditas normais aceitem a “caridade” de MATADORES, sabendo que os produtos, que receberão, virão com o cheiro forte do SANGUE DE TOUROS TORTURADOS, isso já é ser tão MÓRBIDAS quanto os taurinos.
Este cartaz, cheio de erros, a descambar para o espanholado (o que eles chamam "tradição” é tão portuguesa que nem sequer têm palavras portuguesas para designar as 'coisas' tauromáquicas) diz não só da enorme IGNORÂNCIA dos promotores, como da vergonhosa caridadezinha traiçoeira nele contida.
Venham mais destas. Os abolicionistas agradecem. E os Touros e os Cavalos também.
(*)
Tentadero/Tentadeiro - arena
Tentas - sessões organizadas pelas ganadarias em que os novilhos são postos à prova para se testar a sua bravura.
É um espanholismo do âmbito da tauromaquia muito usado em Portugal.
«Tentadero» traduz-se por tenta: «curral fechado para experimentar a bravura dos bezerros» (in Dicionário Espanhol-Português da Porto Editora, coordenado por Álvaro Iriarte Sanróman);
«Lugar cercado, geralmente em forma circular, onde se procede às tentas do gado e onde o mesmo se ferra.» (in Grande Dicionário da Língua Portuguesa coordenado por José Pedro Machado)
«Tenta» é a «lide especial para observação da bravura de novilhos ou novilhas, pouco tempo depois da ferra» (in Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora). Nenhum dicionário confirma que «tenta» é também o local onde se realiza essa lide.
Foto retirada de 'Tenta', onde se pode ver a sequência da queda do cavalo.
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Câmara de Vila Franca apoia temporada tauromáquica com dez mil euros
E NÃO HÁ DINHEIRO???????? PARA QUEM?
NÃO HÁ NADA MAIS IMPORTANTE ONDE APLICAR ESTE DINHEIRO?????????DEZ MIL EUROS!!!!!!!!!!!
Mais um concelho! Mais uma vergonha!
Câmara de Vila Franca apoia temporada tauromáquica com dez mil eurosFonte: O Mirante
Dez mil euros é quanto a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira vai transferir para a Tauroleve - Sociedade Tauromáquica Letra da Neta, empresa que gere a praça de toiros, propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca de Xira, a fim de apoiar a temporada em 2012.
A autarquia garante assim que a empresa coloca à venda bilhetes a preços reduzidos, destinados a idosos acima dos 65 anos e a jovens até aos 18 anos nas corridas de toiros realizadas na época taurina de 2012 na praça da cidade.
A empresa compromete-se ainda a colocar nos cartéis de dez espectáculos de variedades taurinas, que se realizem na presente temporada e em diversas praças de toiros, alunos da Escola de Toureio José Falcão.
O município de Vila Franca de Xira é associado da “Associação da Escola de Toureio José Falcão”, integra a mesa da assembleia geral e apoia financeira e logisticamente o seu funcionamento, proporcionando a aprendizagem da arte de toureio e garantindo a participação activa dos jovens alunos em espectáculos taurinos.
Cinco mil euros serão transferidos pela câmara na semana anterior ao Colete Encarnado e o restante será entregue na semana que antecede a Feira de Outubro. O protocolo já foi aprovado em reunião de câmara.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Touradas = Conservação das Espécies?
Em 2008 a Acção Animal distribuiu mais de 500 panfletos pelo fim das touradas em Portugal e pelo respeito aos milhares de touros que são anualmente torturados em nome do entretenimento e da tradição.
O Pedro, uma das pessoas que recebeu o nosso panfleto, disse que estava indeciso sobre a sua posição em relação às touradas, devido à sua importância em manter a espécie do touro bravo.
Esclarecemo-lo na altura mas ficam aqui os argumentos que certamente serão úteis para outras pessoas.
Hugo Evangelista – Biólogo
O Pedro, uma das pessoas que recebeu o nosso panfleto, disse que estava indeciso sobre a sua posição em relação às touradas, devido à sua importância em manter a espécie do touro bravo.
Esclarecemo-lo na altura mas ficam aqui os argumentos que certamente serão úteis para outras pessoas.
Os proprietários das ganadarias mantêm os touros nos seus terrenos, não porque tenham uma grande consciência ecológica e ambiental, mas porque daí retiram dinheiro. Muito dinheiro. No dia em que os touros deixarem de ser vendidos a 2000 euros cada, cerca de 2600 animais por ano (DN, 2007), os proprietários das ganadarias rapidamente se esquecerão de qualquer importância ecológica ou da biodiversidade do touro bravo.
É esta a principal, senão a única, verdadeira razão para a continuação das touradas no nosso país – interesse económico.
É claro que, para desculpar o indesculpável, atiram para os olhos o facto de se querer proteger uma espécie. Mas nem o touro bravo é uma espécie nem a extinção desta raça é irremediável e obrigatória quando as touradas acabarem.
Nada impede o Estado português de criar parques naturais ou outras soluções viáveis para a conservação destes animais.
O que não pode nunca acontecer é justificarmos o sofrimento e morte de um ser com a capacidade de sofrer para o poder “conservar”.
A conservação do panda passa por espetar bandarilhas no seu dorso? A recolocação do lince ibérico na Península Ibérica passa por o pegarmos de caras?
A conservação de espécies / raças, não é argumento para continuar a haver touradas. É um papel que tem de ser assumido pelos portugueses e pelo Estado e não por empresas que da exploração desses animais retiram avultados lucros.
Existe outro argumento frequente, que é o da conservação dos ecossistemas, mas este é ainda mais frágil. É que estamos a falar de um animal totalmente domesticado, que só existe por selecção artificial de características de interesse. Isto significa que um touro bravo é totalmente substituível senão supérfluo na manutenção dos montados portugueses.
Voltamos então ao único argumento de peso para a manutenção das touradas. Os interesses económicos. Interesses esses que vivem de um espectáculo que promove a ideia de que existe justiça e igualdade em colocar um animal num local estranho e com regras definidas pelos humanos; que coloca animais numa luta que estes não desejam entrar (mas são forçados a isso); que vive da diabolização da imagem de um herbívoro territorial e faz disso um espectáculo de entretenimento.
É vital rejeitarmos esta visão subvertida da realidade. É preciso dizer que a tourada não é uma fatalidade e que podemos acabar com uma das formas mais indignas e desumanas de tratamento dos animais da actualidade. É incontornável assumirmos este como um dos principais objectivos do movimento de defesa e de direitos dos animais.
Hugo Evangelista – Biólogo
"Problemas ético-morais das actividades tauromáquicas"
Nota:
"A demência é gratuita e está ao alcance de todos. Há quem a use com uma destreza surpreendente, como é o caso de Rute Mourão, em “Problemas ético-morais das actividades tauromáquicas”
"É certo que aquilo que nos diferencia dos animais é a inteligência e, como tal, agradecia a todos aqueles que humilham e barbarizam a festa brava, compreendam que aquilo que um toiro sente ao ser-lhe cravado um ferro é dor e não sofrimento. O sofrimento pertence à inteligência emocional, inteligência essa que só a nós, ser humanos, foi conferida."
Espantoso, não é?!!!!"
Diremos mais....
Impressionante a INSENSIBILIDADE com que as pessoas usam as palavras!!!!
Querem atirar areia para os olhos de quem?
Dos monstros que, na ignorância de algozes, se acham superiores. E ainda têm a mania que são superiores... em tudo que existe de pior!!!!
por: Rute Mourão (*)
14 Fevereiro 2011
O toiro de lide é uma das minhas paixões. A nobreza, imponência, postura e beleza de um toiro, no campo ou numa praça, cativam-me tal como toda a arte veterinária que lhes é concedida.
Todos estes motivos, tal como os desentendimentos entre a festa brava e a protecção dos animais, contribuíram para a minha vontade de rabiscar este artigo.
Entristece-me a existência de desacordos e acusações entre estas duas associações. Seria de muito bom-tom falar-se daquilo que é do nosso conhecimento. Não é justo nem correcto, afirmar que a tauromaquia é uma “indústria bárbara” sem ter conhecimento algum acerca da origem desta raça, das suas características fisiológicas, das preocupações que ganadeiros e médicos veterinários têm a nível de profilaxia médica e sanitária pois é de extrema importância o aparecimento de qualquer patologia num toiro de lide.
Presumo, que os meus amigos da liga portuguesa dos direitos dos animais pensem “Claro, porque um animal débil não oferece qualquer mais-valia ao criador”. Na verdade, estes animais, bem como todas as espécies pecuárias, têm elevado valor económico pois são criados para fins comerciais e para espectáculos taurinos. Porém, ninguém sabe o orgulho e a alegria que um ganadeiro sente ao ver um toiro da sua ganadaria ser corrido numa praça.
O agradável da festa não é observar um ferro cravado num toiro mas perscrutar aquilo que o distingue dos outros animais, ou seja, os seus atributos físicos e comportamentais que lhe determinam a chamada bravura.
A bravura resulta de uma fisiologia e temperamento particulares que harmoniza acasta, ou seja, o instinto agressivo e a nobreza, isto é, a sua simplicidade. Se não estiver presente uma destas características apresenta-se um animal manso, o que acarreta a impraticabilidade da lide. Isto, para tentar decifrar que sem actividades tauromáquicas esta raça finda.
A moral de uma corrida de toiros resume-se na capacidade intelectual de entender o que é um toiro bravo e que a bravura é cultura portuguesa devendo ser respeitada.
Quando alguém tem a audácia de defender a ideia de que a tauromaquia é uma “actividade violenta e retrógrada”, sinto-me no direito de contestar o que entende acerca do toiro de lide e cultura.
Traduzindo, agora, a finalidade das actividades tauromáquicas, como é o caso das corridas de toiros, quando se declara que devido à realização destas se preserva a espécie, não se afirma de modo algum, que a raça é assegurada ao cravar-se um ferro no lombo do animal. O que se pretende que seja entendido é que uma lide estimula todos os aspectos físicos e comportamentais que distinguem esta raça de qualquer outro bovino.
Este animal não é um ente querido nem um objecto favorito, nem se pode afirmar que é uma espécie exótica, é pura e simplesmente um ser vivo extraordinariamente bravo.
O toiro é um animal "especial", endocrinamente falando, já que possui uma resposta totalmente diferente de todos os outros animais.
Para investigar se a resposta neuroendócrina do toiro de lide seria igual à de outras raças de bovinos ou de gado de características diferentes, realizou-se um estudo neuroendócrino (hipotálamo-hipófise-adrenal), com a finalidade de analisar as principais hormonas reguladoras.
Avaliou-se a fisiologia do stress, no que respeita aos espectáculos taurinos, procedendo-se à quantificação da ACTH (h. hipófisária), Cortisol (produzido nos córtex das glândulas supra-renais) e adrenalina e noradrenalina (h. medulares) durante a lide.
É claro que o toiro está sob stress mas com este estudo foi possível demonstrar que os níveis de ACTH e Cortisol são, significativamente, mais elevados no momento em que o toiro sai à praça, por exemplo, do que durante a lide. Durante a lide há, também, uma menor libertação destes do que durante o transporte.
A concentração de hormonas em novilhos é superior à dos toiros, talvez devido ao novilho ser um animal mais jovem e por isso está menos habituado ao seu maneio. O mesmo acontece quando bovinos jovens entram pela primeira vez numa manga aquando de acções profiláticas.
O mecanismo do stress é comparado à fisiologia do exercício, ou seja, quanto maior a habituação, melhor serão os resultados e menor será o stress. Além de que é óbvio que o toiro passa mais tempo no campo e, por isso, fisiologicamente falando, desenvolve por completo o seu sistema de regulação hormonal.
Para provar que os resultados obtidos em animais lidados eram correctos, realizou-se uma análise a toiros utilizados em corridas de rejoneio, onde não são aplicados tércios de varas, bandarilhas e não se molesta o animal com a muleta. Qual terá sido a surpresa ao comprovar que os níveis de ACTH e Cortisol estavam mais elevados nestas corridas do que naqueles toiros que foram submetidos a uma lide completa.
De acordo com estes resultados podemos afirmar que as corridas de rejoneio são mais stressantes do que as de lide normal, o que reforça mais a hipótese de que a saída para a praça é o momento mais stressante de toda a lide.
Evidentemente que também me preocupa contradizer as atrocidades que se declaram acerca da dor sentida pelo toiro. Acredito que seja desconhecido o facto do toiro de lide ter desenvolvido uma certa resistência à dor mediante o maneio que lhe foi atribuído. Situações como ferras e tentas, estimulam a libertação de endorfinas (neurotransmissores) que bloqueiam a passagem do impulso nervoso e “anestesiam” o animal minimizando-lhe a dor. O mesmo acontece aquando de uma lide a cavalo ou a pé.
Não só se realizou um estudo para a fisiologia do stress deste animal, como também se analisou o limite de dor. Quantificou-se as beta-endorfinas, que são opiáceos endógenos encarregues de bloquear os receptores da dor no local onde esta se produz até ao momento que deixa de ser sentida, como já tinha referido a priori.
Através dos resultados obtidos provou-se que o limite da dor dos toiros é bastante extenso, ou seja, durante a lide, são libertadas grandes quantidades de beta-endorfinas que “anestesiam” este animal.
Arrisco-me a questionar, aos defensores do fim das actividades tauromáquicas, qual a sua opinião acerca de matanças, caça, pesca, aviários… porque qualquer uma destas actividades causa dor aos animais. Será que me vão dizer que não comem carne nem peixe? Provavelmente comerão mas responder-me-iam que um porco ou uma sardinha não são humilhados em público. Um toiro bravo também não. Quem vai a uma praça de toiros ver um espectáculo não vai ridicularizá-lo mas sim aplaudi-lo pelo seu trapio.
O trapio não é mais que um conjunto de atitudes, reacções, aspectos morfológicos e comportamentais desta raça. Assim sendo, afirma-se que um toiro tem trapio quando contém todos os traços físicos imprescindíveis para a lide. Um toureiro executa a sua tarefa de acordo com as particularidades da raça brava, ou seja, actua acompanhando sempre o seu instinto bravio.
Para proferir acerca de actividades tauromáquicas deverá alcançar-se o que é uma corrida de toiros ou uma novilhada e o porquê de determinado animal ser escolhido para ser lidado numa praça. Não é por ser o mais fraco ou o mais desfigurado, mas sim por ser aquele que possui o tal trapio, a tal nobreza, a tal casta…
É ao observar todas estas minuciosidades que eu, aficionada, vibro numa bancada de uma praça de toiros e não por ver ferros cravados no lombo. Para os entendidos na matéria, o toiro bravo não sofre, apenas demonstra a sua audácia.
É por se ignorarem todos estes conceitos que se escrevem frases infelizes e dispensáveis como: “Não me venham com falsos argumentos de que a tourada tem como propósito a preservação da espécie. O touro pediu alguma vez para ser "preservado" com uns ferros no lombo?”.
Como futura profissional na área das ciências veterinárias, sinto-me responsável por salvaguardar esta raça e os espectáculos taurinos, mas também por assegurar o estatuto ético do animal.
O bem-estar do toiro de lide acaba por ser uma actualização das suas potencialidades através de uma actividade. E bem-estar não é ética? A mais que não seja profissional. Médicos Veterinários e Enfermeiros Veterinários que se especializem nesta área, pretendem que o toiro mantenha a sua bravura porque, caso contrário, teremos animais de natureza brava “obrigados” a serem mansos devido à ausência de estímulos.
Desta forma, qualquer toureiro respeita a natureza deste ser vivo desafiando-o, pois é um animal de estímulos.
Um animal de raça brava tem o direito de usufruir de toda a assistência médico-veterinária. É por isto, que existe um conjunto de medidas profiláticas que são aplicadas e médicos veterinários especializados, nesta área, para que se garanta a sanidade destes animais.
É certo que aquilo que nos diferencia dos animais é a inteligência e, como tal, agradecia a todos aqueles que humilham e barbarizam a festa brava, compreendam que aquilo que um toiro sente ao ser-lhe cravado um ferro é dor e não sofrimento. O sofrimento pertence à inteligência emocional, inteligência essa que só a nós, ser humanos, foi conferida.
Estimados defensores do término dos espectáculos taurinos, depreendam que uma ganadaria salvaguarda uma espécie e que sem lide não existe raça brava.
(*)
Enfermeira Veterinária e colaboradora revista 'Contra Barreira', artigos de opinião sobre a Tauromaquia.
artigo de opinião in revista 'Contra Barreira' Nº 17 de Novembro 2011
"A demência é gratuita e está ao alcance de todos. Há quem a use com uma destreza surpreendente, como é o caso de Rute Mourão, em “Problemas ético-morais das actividades tauromáquicas”
"É certo que aquilo que nos diferencia dos animais é a inteligência e, como tal, agradecia a todos aqueles que humilham e barbarizam a festa brava, compreendam que aquilo que um toiro sente ao ser-lhe cravado um ferro é dor e não sofrimento. O sofrimento pertence à inteligência emocional, inteligência essa que só a nós, ser humanos, foi conferida."
Espantoso, não é?!!!!"
Diremos mais....
Impressionante a INSENSIBILIDADE com que as pessoas usam as palavras!!!!
Querem atirar areia para os olhos de quem?
Dos monstros que, na ignorância de algozes, se acham superiores. E ainda têm a mania que são superiores... em tudo que existe de pior!!!!
14 Fevereiro 2011
O toiro de lide é uma das minhas paixões. A nobreza, imponência, postura e beleza de um toiro, no campo ou numa praça, cativam-me tal como toda a arte veterinária que lhes é concedida.
Todos estes motivos, tal como os desentendimentos entre a festa brava e a protecção dos animais, contribuíram para a minha vontade de rabiscar este artigo.
Entristece-me a existência de desacordos e acusações entre estas duas associações. Seria de muito bom-tom falar-se daquilo que é do nosso conhecimento. Não é justo nem correcto, afirmar que a tauromaquia é uma “indústria bárbara” sem ter conhecimento algum acerca da origem desta raça, das suas características fisiológicas, das preocupações que ganadeiros e médicos veterinários têm a nível de profilaxia médica e sanitária pois é de extrema importância o aparecimento de qualquer patologia num toiro de lide.
Presumo, que os meus amigos da liga portuguesa dos direitos dos animais pensem “Claro, porque um animal débil não oferece qualquer mais-valia ao criador”. Na verdade, estes animais, bem como todas as espécies pecuárias, têm elevado valor económico pois são criados para fins comerciais e para espectáculos taurinos. Porém, ninguém sabe o orgulho e a alegria que um ganadeiro sente ao ver um toiro da sua ganadaria ser corrido numa praça.
O agradável da festa não é observar um ferro cravado num toiro mas perscrutar aquilo que o distingue dos outros animais, ou seja, os seus atributos físicos e comportamentais que lhe determinam a chamada bravura.
A bravura resulta de uma fisiologia e temperamento particulares que harmoniza acasta, ou seja, o instinto agressivo e a nobreza, isto é, a sua simplicidade. Se não estiver presente uma destas características apresenta-se um animal manso, o que acarreta a impraticabilidade da lide. Isto, para tentar decifrar que sem actividades tauromáquicas esta raça finda.
A moral de uma corrida de toiros resume-se na capacidade intelectual de entender o que é um toiro bravo e que a bravura é cultura portuguesa devendo ser respeitada.
Quando alguém tem a audácia de defender a ideia de que a tauromaquia é uma “actividade violenta e retrógrada”, sinto-me no direito de contestar o que entende acerca do toiro de lide e cultura.
Traduzindo, agora, a finalidade das actividades tauromáquicas, como é o caso das corridas de toiros, quando se declara que devido à realização destas se preserva a espécie, não se afirma de modo algum, que a raça é assegurada ao cravar-se um ferro no lombo do animal. O que se pretende que seja entendido é que uma lide estimula todos os aspectos físicos e comportamentais que distinguem esta raça de qualquer outro bovino.
Este animal não é um ente querido nem um objecto favorito, nem se pode afirmar que é uma espécie exótica, é pura e simplesmente um ser vivo extraordinariamente bravo.
O toiro é um animal "especial", endocrinamente falando, já que possui uma resposta totalmente diferente de todos os outros animais.
Para investigar se a resposta neuroendócrina do toiro de lide seria igual à de outras raças de bovinos ou de gado de características diferentes, realizou-se um estudo neuroendócrino (hipotálamo-hipófise-adrenal), com a finalidade de analisar as principais hormonas reguladoras.
Avaliou-se a fisiologia do stress, no que respeita aos espectáculos taurinos, procedendo-se à quantificação da ACTH (h. hipófisária), Cortisol (produzido nos córtex das glândulas supra-renais) e adrenalina e noradrenalina (h. medulares) durante a lide.
É claro que o toiro está sob stress mas com este estudo foi possível demonstrar que os níveis de ACTH e Cortisol são, significativamente, mais elevados no momento em que o toiro sai à praça, por exemplo, do que durante a lide. Durante a lide há, também, uma menor libertação destes do que durante o transporte.
A concentração de hormonas em novilhos é superior à dos toiros, talvez devido ao novilho ser um animal mais jovem e por isso está menos habituado ao seu maneio. O mesmo acontece quando bovinos jovens entram pela primeira vez numa manga aquando de acções profiláticas.
O mecanismo do stress é comparado à fisiologia do exercício, ou seja, quanto maior a habituação, melhor serão os resultados e menor será o stress. Além de que é óbvio que o toiro passa mais tempo no campo e, por isso, fisiologicamente falando, desenvolve por completo o seu sistema de regulação hormonal.
Para provar que os resultados obtidos em animais lidados eram correctos, realizou-se uma análise a toiros utilizados em corridas de rejoneio, onde não são aplicados tércios de varas, bandarilhas e não se molesta o animal com a muleta. Qual terá sido a surpresa ao comprovar que os níveis de ACTH e Cortisol estavam mais elevados nestas corridas do que naqueles toiros que foram submetidos a uma lide completa.
De acordo com estes resultados podemos afirmar que as corridas de rejoneio são mais stressantes do que as de lide normal, o que reforça mais a hipótese de que a saída para a praça é o momento mais stressante de toda a lide.
Evidentemente que também me preocupa contradizer as atrocidades que se declaram acerca da dor sentida pelo toiro. Acredito que seja desconhecido o facto do toiro de lide ter desenvolvido uma certa resistência à dor mediante o maneio que lhe foi atribuído. Situações como ferras e tentas, estimulam a libertação de endorfinas (neurotransmissores) que bloqueiam a passagem do impulso nervoso e “anestesiam” o animal minimizando-lhe a dor. O mesmo acontece aquando de uma lide a cavalo ou a pé.
Não só se realizou um estudo para a fisiologia do stress deste animal, como também se analisou o limite de dor. Quantificou-se as beta-endorfinas, que são opiáceos endógenos encarregues de bloquear os receptores da dor no local onde esta se produz até ao momento que deixa de ser sentida, como já tinha referido a priori.
Através dos resultados obtidos provou-se que o limite da dor dos toiros é bastante extenso, ou seja, durante a lide, são libertadas grandes quantidades de beta-endorfinas que “anestesiam” este animal.
Arrisco-me a questionar, aos defensores do fim das actividades tauromáquicas, qual a sua opinião acerca de matanças, caça, pesca, aviários… porque qualquer uma destas actividades causa dor aos animais. Será que me vão dizer que não comem carne nem peixe? Provavelmente comerão mas responder-me-iam que um porco ou uma sardinha não são humilhados em público. Um toiro bravo também não. Quem vai a uma praça de toiros ver um espectáculo não vai ridicularizá-lo mas sim aplaudi-lo pelo seu trapio.
O trapio não é mais que um conjunto de atitudes, reacções, aspectos morfológicos e comportamentais desta raça. Assim sendo, afirma-se que um toiro tem trapio quando contém todos os traços físicos imprescindíveis para a lide. Um toureiro executa a sua tarefa de acordo com as particularidades da raça brava, ou seja, actua acompanhando sempre o seu instinto bravio.
Para proferir acerca de actividades tauromáquicas deverá alcançar-se o que é uma corrida de toiros ou uma novilhada e o porquê de determinado animal ser escolhido para ser lidado numa praça. Não é por ser o mais fraco ou o mais desfigurado, mas sim por ser aquele que possui o tal trapio, a tal nobreza, a tal casta…
É ao observar todas estas minuciosidades que eu, aficionada, vibro numa bancada de uma praça de toiros e não por ver ferros cravados no lombo. Para os entendidos na matéria, o toiro bravo não sofre, apenas demonstra a sua audácia.
É por se ignorarem todos estes conceitos que se escrevem frases infelizes e dispensáveis como: “Não me venham com falsos argumentos de que a tourada tem como propósito a preservação da espécie. O touro pediu alguma vez para ser "preservado" com uns ferros no lombo?”.
Como futura profissional na área das ciências veterinárias, sinto-me responsável por salvaguardar esta raça e os espectáculos taurinos, mas também por assegurar o estatuto ético do animal.
O bem-estar do toiro de lide acaba por ser uma actualização das suas potencialidades através de uma actividade. E bem-estar não é ética? A mais que não seja profissional. Médicos Veterinários e Enfermeiros Veterinários que se especializem nesta área, pretendem que o toiro mantenha a sua bravura porque, caso contrário, teremos animais de natureza brava “obrigados” a serem mansos devido à ausência de estímulos.
Desta forma, qualquer toureiro respeita a natureza deste ser vivo desafiando-o, pois é um animal de estímulos.
Um animal de raça brava tem o direito de usufruir de toda a assistência médico-veterinária. É por isto, que existe um conjunto de medidas profiláticas que são aplicadas e médicos veterinários especializados, nesta área, para que se garanta a sanidade destes animais.
É certo que aquilo que nos diferencia dos animais é a inteligência e, como tal, agradecia a todos aqueles que humilham e barbarizam a festa brava, compreendam que aquilo que um toiro sente ao ser-lhe cravado um ferro é dor e não sofrimento. O sofrimento pertence à inteligência emocional, inteligência essa que só a nós, ser humanos, foi conferida.
Estimados defensores do término dos espectáculos taurinos, depreendam que uma ganadaria salvaguarda uma espécie e que sem lide não existe raça brava.
(*)
Enfermeira Veterinária e colaboradora revista 'Contra Barreira', artigos de opinião sobre a Tauromaquia.
artigo de opinião in revista 'Contra Barreira' Nº 17 de Novembro 2011
O comportamento do touro dentro de uma praça de touros - por Jordi Casamitjana
Jordi Casamitjana (2008). “Suffering’ in bullfighting bulls; An ethologist’s perspective”
Nota:
Aqui aplica-se:
O ataque("investida") é a melhor defesa!
Vejam-se a exemplo os animais selvagens como se comportam para afastar predadores.. lutam e "investem"...
Cultura? Identidade? Liberdade?
- A todo o custo, querem convencer os desinformados e desatentos!!!
"uma machadada na cultura, identidade e liberdade dos portugueses"
"flagelo económico e ambiental"
- INcultura!
- DESidentidade!
- Liberdade? e os touros/cavalos? (e amam os animais)
- Flagelo económico? Eles são de onde? Pior é quase impossivel!
- Ambiental? Só se for pro ambiente dos bolsos deles...
Tauromaquia: Fim das touradas seria uma "catástrofe" que arrastaria "milhares de pessoas" para o desemprego - Prótoiro
Lisboa, 14 mai (Lusa) - A proibição das corridas de toiros em Portugal é um cenário que o setor descarta, alegando que a medida seria uma "catástrofe" que arrastaria para o desemprego "milhares de pessoas" e "aniquilaria" a economia de vários concelhos.
Diogo Costa Monteiro, da Federação Prótoiro, disse hoje à Agência Lusa que, além de "uma machadada na cultura, identidade e liberdade dos portugueses", a proibição conduziria a um "flagelo económico e ambiental".
De acordo com a Prótoiro, o distrito de Viana do Castelo e a Madeira são as únicas zonas em Portugal onde não existem manifestações tauromáquicas.
A TOURADA, RAZÃO DA EXISTÊNCIA DO TOURO BRAVO?
"uma machadada na cultura, identidade e liberdade dos portugueses"
"flagelo económico e ambiental"
- INcultura!
- DESidentidade!
- Liberdade? e os touros/cavalos? (e amam os animais)
- Flagelo económico? Eles são de onde? Pior é quase impossivel!
- Ambiental? Só se for pro ambiente dos bolsos deles...
Tauromaquia: Fim das touradas seria uma "catástrofe" que arrastaria "milhares de pessoas" para o desemprego - Prótoiro
Lisboa, 14 mai (Lusa) - A proibição das corridas de toiros em Portugal é um cenário que o setor descarta, alegando que a medida seria uma "catástrofe" que arrastaria para o desemprego "milhares de pessoas" e "aniquilaria" a economia de vários concelhos.
Diogo Costa Monteiro, da Federação Prótoiro, disse hoje à Agência Lusa que, além de "uma machadada na cultura, identidade e liberdade dos portugueses", a proibição conduziria a um "flagelo económico e ambiental".
De acordo com a Prótoiro, o distrito de Viana do Castelo e a Madeira são as únicas zonas em Portugal onde não existem manifestações tauromáquicas.
A TOURADA, RAZÃO DA EXISTÊNCIA DO TOURO BRAVO?
quinta-feira, 10 de maio de 2012
quarta-feira, 9 de maio de 2012
Ética e touradas
por António Maria Pereira
«O Boletim da Ordem dos Advogados, dando largas a uma surpreendente "aficion", publicou no seu último número quatro artigos sobre tauromaquia em que, com excepção do primeiro, da autoria de Silvério Rocha Cunha, que é imparcial, os três restantes, escritos por óbvios aficionados, procuram esforçadamente justificar a festa brava. Mas o entusiasmo do Boletim pelo espectáculo de touros é tal que foi ao ponto de acolher nas suas páginas um panegírico da tourada da autoria de um conhecido aficionado cuja profissão é de médico veterinário (!).O elogio da festa brava num boletim da Ordem dos Advogados parece-me totalmente deslocado e desqualifica a revista. O Boletim fez-se para debater assuntos que possam interessar os advogados mas nunca para apoiar o lobby dos touros num debate que divide a sociedade portuguesa mas que não interessa particularmente aos advogados (com excepção de alguns aspectos jurídicos que praticamente não foram abordados).
De qualquer modo, para que não fiquem sem resposta os principais argumentos dos aficionados, vou tentar comentá-los nas linhas que se seguem.
O movimento universal de protecção dos animais corresponde a uma exigência ética e cultural universal, consagrada na Declaração Universal dos Direitos do Animal (1978), em numerosas convenções internacionais e em centenas de leis, incluindo leis constitucionais, dos países mais adiantados.
Nas suas diversas formulações todos esses diplomas têm um denominador comum: a preocupação com o bem-estar dos animais envolvendo antes de mais, a condenação de todos os actos de crueldade; mas além dessa preocupação, um número cada vez maior de correntes zoófilas defende o reconhecimento aos animais de autênticos direitos subjectivos.
O debate sobre esses temas, iniciado aquando do arranque da era industrial, na segunda metade do séc. XIX, ampliou-se a partir da criação, após a última grande guerra, das grandes instituições europeias e mundiais (Conselho da Europa, União Europeia e UNESCO) e actualmente trava-se em várias universidades onde se ministram cursos sobre os direitos dos animais (é o caso das Universidade de Harvard, Duke e Georgetown nos Estados Unidos e de Cambridge, na Inglaterra). Numerosos e qualificados autores têm intervindo nesse debate, iniciado com as obras pioneiras dos já clássicos Tom Reagan e Peter Singer. Em Portugal a discussão tem decorrido sobretudo na Faculdade de Direito de Lisboa graças designadamente aos contributos de António Menezes Cordeiro e Fernando Araújo e ainda nas Faculdades de Direito da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade de Coimbra. Como nota Fernando Araújo em A Hora dos Direitos dos Animais, a bibliografia sobre este tema compreende actualmente cerca de 600 títulos (!).
Não se trata, portanto, de um assunto esotérico cultivado por uns tantos iluminados vegetarianos mas sim — tal como os direitos do homem — de uma componente muito importante da cultura ocidental; a tal ponto que a obrigação para os Estados da União Europeia, de garantirem o bem-estar animal está hoje formalmente consagrado em protocolo vinculativo anexo ao Tratado de Amesterdão.
Não há tempo, neste artigo, que tem como tema as touradas, para entrar no debate sobre os direitos dos animais. Partamos, por isso, de uma conclusão em que todos esses autores — mesmo os que não aceitam a atribuição de direitos aos animais — convergem: a de que são absolutamente contrários à ética os actos de crueldade gratuita para com os animais.
Esta é sem dúvida uma conclusão pacífica não só para os zoófilos mas também para o homem comum em geral e até para os próprios aficionados. Com efeito, se se perguntar a qualquer pessoa (incluindo aficionados de touradas, organizadores de combates de cães e de tiro aos pombos, etc.) se concordam que se torturem animais, é praticamente certo que responderão pela negativa. E no entanto, contraditoriamente, torturam ou organizam a tortura de touros, de cães e de pombos.
O óbvio sofrimento dos touros
É óbvio que os touros sofrem quer antes, quer durante, quer após as touradas. A deslocação do animal do seu habitat, a sua introdução num caixote minúsculo em que ele se não pode mover e onde fica 24 horas ou mais, o corte dos chifres e as agressões de que é vitima para o enfurecer; ao que se segue a perfuração do seu corpo pelas bandarilhas que são arpões que lhe dilaceram as entranhas e lhe provocam profundas e dolorosas hemorragias; e finalmente, na tourada à portuguesa, o arranque brutal dos ferros; e tudo isto já sem se referir a tortura das varas e do estoque na tourada à espanhola — representam sem quaisquer dúvidas sofrimento intenso e insuportável para um animal tão sensível que não tolera as picadas das moscas e as enxota constantemente com a cauda quando pasta em liberdade.
A SIC exibiu há tempos um documentário sobre o que se passa na retaguarda das touradas. Quando chegou à fase final do arranque das farpas o funcionário da praça não permitiu a filmagem por a considerar demasiado impressionante. Mas pudemos ouvir os horrendos uivos de dor que o animal emitia do seu caixote exíguo e que eram de fazer gelar o sangue dos telespectadores.
Na tourada à espanhola com picadores o quadro ainda é mais cruel: o touro é perfurado ainda mais profundamente pela comprida e afiada ponta da "puya" que lhe rasga a pele, os músculos e os vasos sanguíneos, provocando-lhe intencionalmente uma dor intolerável e uma abundante hemorragia, enquanto um cavalo, de olhos vendados, é corneado pelo touro enraivecido e com frequência derrubado e ferido — e tudo isto para gáudio de uma multidão que a cada novo ferro cravado e a cada nova e mais profunda perfuração da vara, vibra com um gozo em que a componente sádica é óbvia.
Perante a evidência de que o touro sofre — e sofre intensamente — ao ser toureado, os aficionados desdobram-se em atabalhoadas tentativas de justificação que não obedecem a um mínimo de razoabilidade, atingindo algumas vezes as raias do surrealismo.
É o que faz Joaquim Grave no artigo publicado no Boletim ao afirmar que "só se pode pronunciar sobre os aspectos éticos da tourada quem conhece o espectáculo". Conclusão esta que, salvo o devido respeito, é completamente absurda, certo como é que os aspectos cruéis acima referidos são óbvios para quem quer que os presencie não sendo necessário estudar tauromaquia para chegar à conclusão de que o touro é objecto de grande sofrimento ao ser farpeado e estoqueado.
Ética e tortura dos touros
Afirma ainda Joaquim Grave que "na corrida existe uma certa ética na relação homem/animal, ou, por outras palavras, e contrariamente ao que afirmam os que a não conhecem, na corrida o touro não é tratado como uma coisa, já que não se lhe pode fazer qualquer coisa indiscriminadamente".
Falar em ética para justificar a cruel agressão, com perfuração por ferros, a um animal abruptamente arrancado ao seu habitat é um absurdo, um "nonsense". Absurdo esse que atinge os limites do surrealismo ao sustentar-se que, no domínio do tratamento cruel, haveria crueldades que a ética permite (as farpas, a puya, o estoque) e outras que a tal ética não autorizaria. Como não se exemplifica de que crueldades se trata suponho que o autor se queria referir, por exemplo, às bandarilhas de fogo ou a cravar farpas nos olhos do touro.
Tudo isto é absurdo. A ética exige que não se inflija qualquer sofrimento cruel ao touro, ponto final. Se esse sofrimento resulta dos ferros cravados ou de qualquer outra coisa "que não é costume executar nas touradas", é um aspecto completamente irrelevante à luz da ética e insustentável em face da razão e do bom senso.
Tentando de novo invocar a ética para justificar a barbárie da tourada, Joaquim Grave mais adiante afirma que "a ética touromáquica é pois a seguinte: respeita-se a natureza do touro, combatendo-o, pois é um animal de combate".
Uma vez mais estamos perante um falso argumento em que a má-fé é evidente: o touro é um animal inofensivo quando no seu habitat; mas é evidente que tem, como todos os animais, o instinto de defesa que o leva a atacar quando agredido. Ele é vítima de uma maquinação cruel de quem o retira do seu habitat, o encerra numa praça e depois o agride cravando-lhe ferros.
A conclusão do artigo está à altura da argumentação: "sendo o touro um ser por natureza bravo, ele realiza o seu grande bem lutando, ele realiza a sua natureza de lutador na luta e ele realiza-se plenamente a ele próprio na corrida e pela corrida".
Lê-se e não se acredita: o infeliz touro, que é levado à força de seu habitat e depois perfurado com farpas, com a "puya", ou estoqueado, que quando não é morto acaba a tourada com feridas profundas e pastas de sangue a escorrer pelo lombo, esse sacrificado animal seria afinal uma espécie de bombista suicida, que se realizaria plenamente pelo seu próprio sofrimento e morte em combate...
Estamos aqui uma vez mais no reino do absurdo. Como é óbvio, ao contrário do bombista suicida, que procura alegremente a morte, o pobre touro, se pudesse falar, diria com certeza que o seu único desejo era nunca sair da lezíria e continuar a pastar pacificamente.
O toureiro — grande defensor dos touros!
Também o Dr. João Vaz Rodrigues, num artigo com pérolas de poesia surrealista, como aquela em que "repudia a hipocrisia de quem sacrifica de bom grado a vida de uma singela flor para preencher emocionalmente um desígnio de vaidade e verbera veementemente o sangue de um animal cujo o destino é exactamente o de morrer na arena", acrescentando "bem sei que a flor não se manifesta da mesma maneira mas morre igualmente sacrificada à emoção", remata com esta frase lapidar: "quem defende o touro é o próprio toureiro e os demais que respeitam a festa. Sem este aquele sofre sérios riscos de extinção".
Ao longo de todo este artigo, além da nostalgia do autor "por já não conseguir assistir à caça à baleia ou aos banhos de espuma sanguinolenta da "copejada" do atum de Tavira" (Freud poderia dar aqui um contributo importante para a explicação de tal "nostalgia") o único argumento que sobressai é o do receio da extinção da espécie taurina caso as touradas acabassem.
Tal como os outros, este argumento não procede, certo como é que, se necessário, se poderia facilmente criar reservas de touros, tal como existem reservas de búfalos.
Resta a pasmosa afirmação de que "quem defende o touro é o próprio toureiro". Na mesma linha de argumentação pode afirmar-se que quem defende a vítima da tortura é o torcionário. Ora aqui está um bom argumento para uso dos advogados defensores dos réus que no Tribunal Internacional de Haia e noutros tribunais são acusados de crimes contra a humanidade: ao torturarem e executarem barbaramente milhares de muçulmanos na Bósnia os torcionários estavam afinal a defender as suas vítimas! É claro que não vale a pena discutir nestes termos de irracionalidade.
Em conclusão, o certo é que nenhum dos aficionados autores dos textos publicados no Boletim da Ordem dos Advogados — como nenhum aficionado em qualquer parte do mundo — conseguiu ou conseguirá jamais demonstrar, de boa-fé, que os touros não sofrem ao serem lidados. Sofrimento esse que não tem qualquer justificação a não ser o prazer sádico e emotivo de quem a ele assiste.
E a confirmação desse sadismo está nesta atitude: quando se propõe a um aficionado que as farpas em vez de terem arpões de ferro tivessem ventosas — como já aconteceu nos Estados Unidos — a sugestão é logo afastada com indignação. O que o aficionado sobretudo quer é ver o sangue, é deliciar-se com o sofrimento do touro.
As touradas ofendem por isso um princípio fundamental da ética que impende sobre qualquer pessoa que se preocupe em pautar os seus actos pelos ditames da moral e da ética.
As touradas foram proibidas em Portugal por Decreto de 1836, da iniciativa do então primeiro-ministro Passos Manuel, por já então, conforme se lê no Decreto, "serem consideradas um divertimento bárbaro e impróprio das nações civilizadas, que serve unicamente para habituar os homens ao crime e à ferocidade".
De então para cá, e apesar do retorno das touradas, o certo é que cada vez mais se acentua a repulsa dos países civilizados por esse barbarismo medieval. Em Portugal, segundo sondagem recente, a percentagem de portugueses que não gosta de touradas é de 74,5 % contra 24,7 que ainda gosta (cf. Público, 26.08.2002).
Tal como os autos de fé, os suplícios e as execuções públicas e outros barbarismos próprios de séculos de obscurantismo — também, a médio prazo, as touradas estão condenadas a desaparecer dos raros países onde ainda são toleradas.»
* 2006
António Maria Pereira
(Lisboa, 12 de Fevereiro de 1924 — Lisboa, 28 de Janeiro de 2009)
"pai dos direitos dos animais em Portugal"
O Dr António Maria Pereira, não foi apenas "pai dos direitos dos animais em Portugal", foi indefectível promotor e defensor do processo desencadeado na UNESCO que consagrou a proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Animal!
Para grande orgulho nosso, um ilustre Cidadão Português!
Porquê A Tourada?
«Esta é a pergunta que alguns fazem perante a pretensão da abolição das corridas de touros em Portugal. “Com tantos problemas que há actualmente, com tanta gente na miséria, com tantos animais que sofrem em canis, gatis, na rua, nos matadouros, por que deveríamos preocupar-nos com as touradas? Não há outras vítimas cujo sofrimento pede uma atenção mais urgente?” Estas são as questões com que portugueses preocupados se debatem – e são os argumentos a que os apoiantes da tauromaquia recorrem para adiar o problema, para promoverem a resignação, para sacudirem responsabilidades.
Na verdade, o verdadeiro problema é precisamente o oposto: não podemos corrigir questões de fundo deixando o óbvio a descoberto. Se o problema de fundo é a protecção das vítimas sem voz, não há maiores vítimas que os animais, que dependem totalmente de nós para defendê-los. Se o problema de fundo são os inúmeros animais que, sem o nosso conhecimento, sofrem com fome, maus-tratos e abandono, como poderemos nós abordar esse problema sem antes lidar com um acto de tortura que é feito à vista de todos, que é publicitado e com o qual alguns ainda ganham dinheiro?
Em casa de ferreiro, espeto de pau? Será que queremos o bem dos animais, mas permitimos que sejam torturados perante os nossos olhos?
Fazendo parte de uma sociedade moderna, será que queremos mesmo garantir que os animais sejam respeitados, permitindo simultaneamente que um grupo de pessoas chacine touros num anacrónico ritual que consideram lúdico? Poderei eu, de consciência tranquila, ajudar um pobre animal encontrado na rua, sabendo que a televisão transmite a prática de tortura activa contra animais?
É aqui que o conflito se torna incontornável. É aqui que percebemos que princípios humanos fundamentais – como a bondade, a compaixão e o respeito pela vida – são directamente violados pela prática tauromáquica.
É aqui que as prioridades se tornam evidentes: a tourada é o mal maior, é o rosto mais visível do pior que o ser humano tem, é a materialização dos instintos mais primitivos, grotescos, sádicos e sanguinários que sempre nos envergonharam.
Todos os anos, milhares de touros e cavalos morrem desnecessariamente nas arenas, vítimas de um ritual de vaidade e ostentação, apreciado por uma minoria e repudiado pela maioria. Os promotores tauromáquicos insistem em chamar-lhe cultura nacional. Eles, os verdadeiros interessados em perpetuar este macabro espectáculo, invocam a tradição e a cultura como justificação. A tradição da violência já não tem lugar nos nossos dias.
Cultivar o embrutecimento humano e os maus-tratos contra os animais também não. Alegam, ainda, que a tauromaquia movimenta dinheiro, que dá trabalho. Pois bem, uma significativa parte desse dinheiro sai do nosso bolso, da população portuguesa, em forma de fundos atribuídos por entidades europeias de financiamento à agricultura, canalizados através do Governo, das autarquias e juntas de freguesia. É, portanto, dinheiro que faria falta em causas como o ensino, a saúde, o apoio social. Mas não, é desviado para a tortura. Quanto aos empregos? Raras são as pessoas em Portugal que têm na tauromaquia a sua única actividade profissional. A tauromaquia é uma actividade sazonal, que não precisa de praticantes a tempo inteiro, que recorre, essencialmente, a amadores e voluntários.
Ironicamente, e apesar da tentativa de colar a tauromaquia a uma prática cultural nacional, a verdade é que as corridas de touros surgiram no panorama nacional através da Espanha. E é por esse motivo que a tauromaquia em Portugal está repleta de elementos castelhanos, desde os termos usados na tourada, aos trajes e à música. A tourada não é, portanto, uma prática nacional.
Posto isto, chegamos ao motivo pelo qual a tourada deve ser abolida. Percebemos agora a natureza prioritária da abolição da tourada em Portugal. Se queremos conviver em paz e harmonia com os animais, comecemos por não permitir que os torturem perante o nosso resignado olhar. Abolir a tauromaquia em Portugal terá um papel fundamental na nossa afirmação como povo evoluído, sensível, eticamente correcto. Será pedagógico, ensinará às futuras gerações que nós, como povo, a dada altura da nossa história nos unimos para defender vítimas inocentes, mudas, indefesas.
Tenhamos a coragem de tomar uma posição convicta e declarada contra a barbaridade, contra as práticas que embrutecem um povo e vitimizam os inocentes. Tenhamos a bondade e o altruísmo de defendermos para os nossos semelhantes aquilo que para nós próprios quereríamos.
Saibamos definir prioridades. Porquê a tourada? Porque é o mais evidente desrespeito pela vida animal que ainda tem lugar em Portugal. Porque torturam animais – touros e cavalos – perante a nossa passividade, sem pudor, sem respeito. E porque, até agora, nós deixámos.
Deixámos!»
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Pró-Taurinos vs Anti-Taurinos
Após a informação exposta nos artigos anteriores, deste dossier, temos agora enquadramento suficiente para perceber e participar na discussão entre os apoiantes e os detractores das touradas. Abaixo são explorados os principais argumentos utilizados para a defesa e para a proibição das touradas.
A Tradição | |
Pró-Touradas | Anti-Touradas |
| Apesar do seu valor histórico as tradições devem acompanhar os tempos e adaptar-se, ou mesmo extinguirem-se, à medida que a humanidade evolui. Os direitos dos animais são cada vez mais um dos pilares de uma consciência ética e justa. O Touro não pode e não deve ter um regime de excepção na garantia desses direitos. Durante 500 anos a escravatura foi uma tradição e costume. A emancipação das mulheres foi feita através de uma longa e desigual luta que conseguiu pôr fim a uma supremacia masculina em termos de direitos e exercício de cargos ou profissões. As execuções em praça pública foram comuns durante séculos. Este são apenas três exemplos de antigas tradições milenares ou seculares que naturalmente chegaram ao fim. Porque era o correcto e não porque toda a sociedade concordasse com o seu fim. O que se deve sobrepôr? O perpetuar de uma tradição ou o respeitar do bem-estar humano e animal? |
Conhecer e Preservar o Touro | |
Pró-Touradas | Anti-Tourada |
Os profissionais do mundo tauromáquico, e mesmo os afficionados em geral, são os verdadeiros conhecedores e amantes dos Touros. Convivem com os Touros em todo os ciclos da sua vida, conhecem-nos como ninguém, seja em aspectos biológicos, seja em aspectos psicológicos e/ou comportamentais. | Sim, é verdade que quem lida com eles diariamente terá a aptidão natural de melhor os conhecer. Não é por acaso que das mais detalhadas e apaixonantes descrições sobre Touros sejam feitas por pessoas ligadas à Tauromaquia, com claro conhecimento de causa. No entanto é de estranhar que tanta admiração e amor ao animal culminem no aceitar do seu sacríficio num espectáculo baseado no infligir de stress e dor ao Touro. Quem de perto lida com os Touros sabe que aquele não é o seu ambiente, que investe porque não tem para onde fugir, que sente cada um dos castigos que lhe são fustigados e que tivera o Touro livre escolha e não estaria ali naquela confrontação desigual. Sabe também quem os cria que um Touro pode viver dezenas de anos, no entanto entrega-o para as lides quando perfazem apenas 3 anos. Privar um Touro de viver as restantes décadas são demonstração de amor, apreço e respeito? |
A luta entre homem e Touro na arena é uma luta justa. É o culminar de uma vida de bem-estar em liberdade podendo o Touro salvar a sua vida com um indulto sendo devolvido aos prados. | Quanto á luta justa existem dados estatísticos em Espanha que dizem que desde 1771 foram mortos 445 ´artistas´ das lides Tauromáquicas (apenas 65 toureiros) e que desde 1950 foram alvo de indulto apenas 7 Touros. Estranho sentido de justiça aplicada aos centenas de milhares de Touros mortos desde 1771 ou estará a balança avariada? E que dizer do facto de 80% dos Touros indultados morrerem no dia seguinte ao da lide? |
Muitos dos que gritam pelo fim das Touradas não fazem o ideia do que é um Touro e do que lhe dá ganas de viver. O Touro anseia pela confrontação e sente-se confortável na luta. É um animal agressivo que sente prazer na lide. | Não bastará reconhecer que o conceito de forçar um animal a defender-se, de o sangrar na arena e de o ver sofrer são vis, sádicos e macabros? Precisaremos de conhecer um animal para assumir que não terá ganas de querer sofrer e morrer? Muitos dos que gritam a favor das touradas não deixam que os aficionados façam ideia do que é e do que sente um Touro enfabulando e mistificando o conhecimento público sobre os Touros. Em artigos deste dossier já foi feita a informação sobre o comportamento normal de um Touro que é completamente antagónico ao que o mundo Taurino quer fazer passar. |
Sem a Tauromaquia o Touro seria extinto. É uma raça sem interesse comercial para outras actividades onde existem raças mais produtivas. A Tauromaquia é também uma actividade que preserva milhares de hectares de montado com sistemas de produções de bovinos dos mais sustentátveis e com maior bem-estar animal em todo o mundo. Com efeito, em três ou quatro anos de vida do touro, este apenas sofre cerca de 30 minutos, o tempo que dura a lide. O resto do tempo, não há animal que viva junto do homem que tenha vida que se lhe compare. Vive em liberdade, em estado selvagem, inteiro. Intimamente ligado aos Touros existe também o desenvolvimento e apuramento dos Cavalos Lusitanos. | Parece um pouco um contra-senso aqueles que se dizem os principais amantes e defensores de uma espécie defenderem que se não existir algum interesse comercial a sua preservação é impraticável. Temos em Portugal vários centros de recuperação de espécies em extinção (como o lobo e lince ibérico) e várias reservas onde existe um ecossistema que permite a vivência de espécies autóctones em equilíbrio. Com a ajuda de biólogos e cooperação dos actuais ganadeiros certamente que seria viável criar uma reserva de alguns milhares de hectares de montado onde fosse possível que algumas manadas vivessem em liberdade. Iria até ajudar certamente a recuperação de um dos seus predadores naturais, os lobos, bem beneficiar o reforço de população de aves necrófagas. Quanto aos cavalos são outros dos animais explorados na Tourada que felizmente hoje em dia não morrem com a frequência de outros tempos. (apesar de neste dossier não se ter explorado o tema existe também muito sofrimento psíquico e físico dos cavalos, sobretudo dos que são montados pelos picadores que são privados da visão e audição para enfrentarem as investidas do Touro sem perceber o que se passa nem poder reagir instintivamente. Sofrem também graves lesões e por vezes a morte.). Em todo o caso talvez alguns desses cavalos pudessem também ser libertos nas reservas atrás mencionadas. Visto que aparentemente ambos os lados da barricada têm amor e respeito ao Touro certamente que não seria complicado juntar esforços e dedicação para providenciar uma vida verdadeiramente livre aos Touros. |
O Touro é um dos animais na Natureza com maiores níveis de endorfinas e adrenalinas no seu sistema o que leva a que a sua sensibilidade à dor seja extremamente reduzida em alturas de stress comparativamente a outros animais. O facto de os níveis de stress do Touro atingirem o seu pico máximo durante o transporte, em que estão confinados em espaços exíguos, e baixarem significativamente durante a lide demonstram como é um animal que se sente bem na luta. A sua bravura suplanta em muito o seu sofrimento porque a sua fisiologia assim o permite. Exigem estudos científicos rigorosos dos quais resulte a conclusão de forma inquestionável que os animais, e em particular o Touro, sentem, como o fazem e em que circunstâncias. | Isto contraria o facto dos ganadeiros evitarem ao máximo castigar os Touros durante a sua vida pois estes recordam-se para sempre dos castigos que sofrem e dos autores e utensílios utilizados. Se um Touro sente as moscas que pousam no seu corpo, que reage com espamos involuntários ou com o abanar da cauda para as afastar como poderá não sentir as perfurações de lâminas com vários cm de diâmetro e profundidade? Também um Homem em luta pela sua vida não sente a dor das lesões que sofre a quente. Se estudassem apenas os homens quando se encontram em combates de ringue não iriam tirar as mesmas conclusões? Cientificamente está aqui rebatido esse argumentocom indicação de todas as lesões provocadas pelas sevícias a que é sujeito um Touro bem como do stress a que é sujeito. Mesmo que o Touro nada sentisse, qual a moralidade de provocar lesões num animal que lenta e progressivamente conduzem à sua morte? Durante séculos o nosso conhecimento sobre o bem-estar físico e psicológico dos animais era rudimentar. Ainda há duas ou três gerações era comum dizer-se que os animais não sentiam dor. Hoje em dia está comprovado que os animais, incluindo o Touro, são seres sencientes, capazes de sentir dor física e sofrimento psíquico/emcional. Negá-lo está ao nível da posição da inquisição sobre os heréticos avanços da ciência. |
Outros Argumentos | |
Pró-Touradas | Anti-Touradas |
A Tourada é um espectáculo que ocorre em recinto fechado com bilhete pago. Só assiste quem quer. E quando dá na TV quem não quiser assistir basta mudar de canal. Quem não gosta não vê. | Não podemos ficar indiferentes aos maus tratos a animais infligidos aos Touros durante um pretenso espectáculo cultural. O regime de excepção para com os Touros equivale a uma lei penalizadora de um crime, excepto se cometido sobre um tipo de vítimas em particular. O Touro é um animal como os outros e deve ser reconhecido e protegido como tal. O sentimento de injustiça e intolerância são o natural para com uma tradição que parou no tempo e assenta numa violação dos direitos e bem-estar de animais. A partir do momento que existem apoios de autarquias e televisões públicas à exaltação de um espectáculo que assenta em derrame gratuito e violento de sangue, os cidadãos portugueses têm o direito de manifestar o seu desagrado e exigir o fim de todo e qualquer apoio a esta actividade, bem como ao seu fim. |
Porque é que aqueles que se insurgem contra as Touradas não se insurgem contra o sofrimento e más condições de vida das galinhas, porcos, vacas, peixe, etc, que comem tranquilamente sem problemas de consciência? Porque não se preocupam com os cães e gatos abandonados que são um flagelo no nosso país? Ora, os defensores dos direitos dos animais fariam melhor em preocupar-se com os valores civilizacionais que transformaram a vida de certos animais domésticos num espectáculo verdadeiramente degradante do que com as touradas que enobrecem e perpetuam a vida dos touros bravos, proporcionando-lhes uma vida de fazer inveja à dos seus primos bois. | E porque assumem que não o fazem? Muitos dos activistas anti-tourada praticam uma dieta vegetariana e/ou defendem o bem-estar dos animais, mesmo daqueles que têm como destino o consumo humano. Muitos estão também intimamente ligados a associações zoófilas que lidam directamente, com acções no terreno, com o problema do abandono de cães e gatos em Portugal. Não existe uma prioridade para os horrores e resolução de problemas. A polivalência é necessária e obrigatória exactamente para não deixar agravar aqueles que são descurados. Recentemente conseguiu-se a vitória de a prazo acabar com o uso de animais em circos. O fim das Touradas se seguirá. É mais uma de muitas batalhas em curso pelos direitos e bem-estar dos animais. |
A Tourada foi apreciada desde sempre e inspirou muitos artistas com obras marcantes sobre o tema expressas em pinturas, esculturas, música e obras literárias. | Os artistas são como o resto das pessoas. Existem os aficionados e os que se oponham à Tourada. O facto de ser alvo de abordagens no trabalho de vários grandes artistas não deverá ilibá-la daquilo que é. Também muitos artistas se inspiraram em guerras, em cenários de catástofres naturais e sofrimento humano e ninguém defende que estas devam ocorrer para estimular veias criativas. |
A Tauromaquia é uma actividade auto-sustentada que gera empregos e riqueza para o país. Não recebem quaisquer apoios financeiros do estado. Seria um desastre económico o fim da actividade Tauromáquica. | Auto-sustentada? A receber milhões de euros de apoios de autarquias anualmente para manutenção dos recintos e organização das ´festas´? Todas as revoluções que têm impulsionado o desenvolvimento da nossa civilização têm provocado transformações nas actividades profissionais existentes. A revolução industrial acabou com o fabrico artesanal de milhares de produtos, a robótica e informatização extinguiram também uma série de tarefas que eram executadas por pessoas e os sectores económicos mais fortes estão em constante mudança obrigando a uma movimentação constante das massas laborais. O fim da Tauromaquia seria apenas um desastre económico para as poucas centenas de famílias que dela dependem a 100%. E isto se não fosse estabelecido algum tipo de plano que lhes permitisse a transição gradual de actividade. Não é defendida a ruína de pessoas mas o fim de uma actividade cujos moldes podem e devem ser negociados para diminuir o seu impacto nos agentes que vivem exclusivamente dessa actividade. As praças de Touro continuariam a existir mas o seu espaço a ser reaproveitado para actividades verdadeiramente lúdicas e culturais. |
Muita gente é aficionada desde tenra idade e não é por isso que são pessoas mal-formadas, agressivas ou perigosas para com os outros ou animais. | Não pode ser ignorada a força da sugestão e do subconsciente, bem como o culto de alguma ignorância. A tourada incute a imagem errada dos Touros e sobretudo educa a tolerância à violência, ao sofrimento e a imagens sangrentas a troco de divertimento. Mesmo que apenas para com Touros, o que pode ser discutível. Mais detalhes sobre o impacto da Tourada em crianças e jovens pode ser lido neste ensaio feito por um psiquiatra. |
Os anti-taurinos atribuem aos animais características humanas para despertar proximidade e identificação confundido o que são pessoas e o que são animais. Com a antropoformização do Touro deixam-no de ver como o animal que é com necessidades, comportamentos e reacções psíquico-físicas distintas das de um ser humano. | Touro Bravo, Fera Negra, Besta Negra, símbolo da morte e do medo, arrogante, valente, etc. São apenas alguns dos termos comuns utilizados pelos pró-Taurinos. Tão depressa o sacralizam, como diabolizam como o antropoformizam. Descrevem-no à medida do necessário para conceder uma carga sagrada, poética, espiritual, transcendente ao acto da Tourada. Ao dizerem que o Touro nasce para arena e que não sente dor devido ao prazer da luta estão também já cegos para com as reais necessidades, comportamentos e reacções psíquico-físicas deste animal que tão bem conhecem. |
Ocorrem muitos espectáculos com Touros para fins beneméritos existindo uma forte solidariedade social com grandes benefícios para misericórdias e outras associações. | Ser pró-taurino não quer dizer que não se seja solidário e voluntário para com causas sociais pelo que este é um argumento que parece ser uma lavagem de cara servindo-se daqueles que vivem com a corda no pescoço e que não podem recusar donativos. Mesmo assim há muitas associações zoófilas que recusam donativos oriundos de actividades que envolvam o sofrimento de animais pelo que normalmente o alvo dos donativos são associações de causas relacionadas com a melhoria de vida de pessoas mais carenciadas. É louvavel esta atitude e distribuição de dinheiro que não deixa de ser um dinheiro sujo de sangue. Mas lançamos o desafio de que os apoios dados pelas autarquias em vez de serem canalizados para actividades tauromáquicas sejam directamente canalizados para associações sem fins lucrativos de apoio a pessoas e animais. |
Admitem um dia colocar fim às actividades Tauromáquicas. Mas pela falta de afluência de público e não por resultado de manifestações daqueles que são contra estas práticas. | As manifestações físicas e online são uma das vias para conduzir a essa falta de público. O que elas pretendem é mostrar que há muitos cidadãos incomodados com as práticas tauromáquicas e trazer a público informação e pontos de vista muitas vezes desconhecidos. |
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