sexta-feira, 4 de maio de 2012

O Touro e o Homem ao Longo dos Tempos

O Touro representa desde sempre a força e virilidade, duas qualidades fundamentais do ideal masculino. Ao longo da história foi sacralizado e endemoninhado representado para o Homem a encarnação ou manifestação de características sobrenaturais e transcendentes.


Pré-História
Pintura nas Cavernas em Lascaux, França
Existem pinturas do Paleolítico que representam explicitamente os Aurochs, antepassados dos actuais Touros. Algumas das pinturas ilustram colhidas mortais com figuras humanas tombadas sob um Auroch.

É inegável o fascínio do Homem para com o Touro desde os primórdios da nossa civilização. Talvez isto se deva ao facto de serem abundantes nos prados e era frequente o contacto e a observação mútua. Especula-se que os machos Auroch eram significativamente mais agressivos que os actuais Touros e eram alvo de caçadas nas quais muitas vezes existiam ´danos colaterais´ para os humanos o que cultivou o respeito pela sua bravura e potência na defesa da sua vida e dos seus.

A sua domesticação deu início à criação das subespécies de gado doméstico que hoje abundam no planeta.


Grécia Antiga
Fresco de Cnossos na Grécia 
Minóica
De 2 000 a 1 425 AC surge a idade de ouro da arte Taurina.

O culto do Touro prevalecia na vida da Grécia Minóica. O Rei / Governante, designado por Minos, era o sacerdote do culto do Sol que venerava Cnossos. Uma das entidades divinas adoradas era o Minotauro para o qual construiram o famoso Labirinto de Creta.

Um dos rituais fundamentais era o sacrifício de jovens rapazes, oriundos de antigas aldeias da península Helénica, ao Touro Sagrado que representava a entidade Minotauro. Estas vítimas inocentes tinham a possibilidade de salvar a sua vida se conseguissem, por mestria, agilidade, sorte e capacidade próprias, evitar as investidas de um Touro durante tempo suficiente para serem poupados.

Naturalmente isso raramente acontecia.

Os sacerdotes do Minotauro, que o Touro Sagrado não atacava por com eles conviver desde tenra idade, executavam acrobacias sobre o seu corpo, lançando-se e apoiando-se sobre os seus cornos. No final da cerimónia o Touro era sacrificado e o seu sangue, considerado altamente fecundo, era espalhado sobre os campos como fertilizante.

Suspeita-se também que a lenda do Unicórnio tenha surgido na Grécia através da observação de Touros pois de perfil aparenta ter um único corno.


Império Romano
Touro nos sanguinários espectáculos dos 
Coliseus Romanos
Os Aurochs eram utilizados nos ´espectáculos´ nos Coliseus Romanos que duraram até ao século IV.


Júlio César ficou fascinado com os Aurochs descrevendo-os da seguinte forma "... os animais que são chamados Uri. Estes são um pouco inferiores ao elefante em tamanho e têm a aparência, cor e forma de um Touro. A sua força e velocidade são extraordinárias;.. não poupam nem homem nem besta selvagem que possam ter avistado. Os alemães conduzem-nos a grande custo em covas para matá-los. Os jovens fortalecem-se com este exercício, e praticam este tipo de caça, e aqueles que mataram o maior número deles, apresentando os chifres em público, para servir como prova, recebem um grande elogio. Mas nem mesmo quando tomados muito jovens podem estes animais ​​familiarizar-se para com os homens e serem domados. O tamanho, forma e aparência dos seus cornos, difere muito da dos cornos de nossos bois. Estes são muito procurados, e cobertas as suas pontas de prata, e usados como copos ornamentais ..."

Os Romanos praticavam também uma religião a que chamavam os Mistérios de Mithra, oriunda da pérsia antiga. Mithra representa o Deus da Luz que perseguiu, dominou e matou o Touro divino cuja morte era necessária para a renovação do mundo.


Idade Média

Na idade média existe registo de actividade tauromáquica regular pelo menos desde o século XI na Andaluzia.

Existe uma disputa relativamente aos criadores das corridas de Touros que estão na génese das lides actuais. Cristãos ou Mouros ambos praticavam a tauromaquia.

Depois da queda do Império Romano os seus anfi-teatros ficaram ao abandono e em ruínas tendo sido reaproveitados para a realização de Touradas.

Apesar de por natureza ser um espectáculo popular apresenta-se e afirma-se como um ritual marcadamente aristocrático. Por esta altura o Touro já tinha passado de representação de divindade venerada a representação de entidades demoníacas merecedora da violência da lide. Para os pagãos o touro era uma entidade divina, para os cristãos uma entidade demoníaca. Na península Ibérica a invasão moura foi determinante para acabar com a luta pagã e cristã culminando num reforço da Tauromaquia que tanto apreciavam.


Idade Moderna

A Tauromaquia passa a ser fortemente representada na arte, sobretudo na pintura.

A primeira corrida real em Madrid ocorre em 1502.
A Plaza Mayor, com capacidade para 50 000 espectadores, foi construída em Madrid em 1617.

Os Cavalos assumem grande protagonismo. O toureiro toureava a Cavalo, muitas vezes até que este fosse morto, após o que continuavam a lide a pé sendo suportados por dezenas de homens ao seu dispôr. Os Cavalos são quase considerados carne para canhão. Naturalmente um Cavalo nunca confrontaria um Touro, fá-lo porque são treinados para temer mais a desobediência ao cavaleiro do que a confrontação do Touro.

Em 1725 começa a afirmar-se em Espanha a personagem do matador a pé. Fruto sobretudo da falta de cavalos provocada pela guerra da Sucessão Espanhola de 1701-1714.


A partir de 1740 "La Fiesta" assume uma faceta artística que alarga a sua aceitação a todas as classes sociais.

A partir da 2ª metade do século XIX as técnicas fotográficas revolucionam a reprodução impressa e os esquemas tradicionais. Do ponto de vista plástico a visão humanista da Tauromaquia é substituida pela visão objectiva. O romantismo dá lugar ao realismo e impressionismo.



Portugal (maior detalhe)

Os Touros bravos, que por cá abundavam, eram usados no treino dos senhores feudais e das suas montadas. A tauromaquia era praticada por realeza e nobreza a cavalo, acompanhada da sua criadagem, que era seguida pelo povo a pé.


1516-1746 
Ocorrem mudanças em Espanha, começando por D. Carlos IV, Rei de Espanha de 1516 a 1555, que privou a nobreza espanhola dos jogos com Touros e mais tarde Filipe V, Rei de Espanha entre 1700 e 1746, veta os jogos com Touros em Espanha. Estas restrições no país vizinho impulsionaram esses jogos em Portugal que se desenvolveram e se afirmaram com o aumento da procura, em boa parte proveniente do interesse nas regiões fronteiriças que obtinham em Portugal o prazer das lides que lhes foi dificultado em Espanha.

1683-1706
D. Pedro II era um grande aficcionado e toreava. D. Maria Sofia, sua esposa apaixonada e preocupada com os males que poderiam suceder ao seu marido, conseguiu que o Rei emitisse um decreto que tornava obrigatório o embalamento (corte da ponta dos cornos e seu envolvimento em material resistente que lhe retire capacidade de perfuração mortal) em todas as corridas portuguesas. Isto foi considerado uma fraude no restante mundo taurino onde consideram essencial que o Touro se apresenta na plenitude das suas capacidades.

1777 
Marquês de Pombal proibe as Touradas após uma em que faleceu uma figura nobiliárquica muito estimada pelo actual Rei D. José, voltando a ser permitidas anos mais tarde.

1777-1816 
D. Maria I não era adepta da touradas e desagradavam-lhes as brutalidades e barbaridades presentes nas práticas tauromáquicas. Foi no seu reinado que foram eliminadas práticas como o picar do touro por parte dos populares antes das lides e o cortar dos tendões das patas traseiras para debilitar o Touro a que se seguia uma largada de matilhas de cães para o dominarem. Interviu na organização das lides para atenuar a barbárie e civilizar o povo.

1816-1826 
Durante o reinado de D. João VI a Tauromaquia foi relegada para segundo plano não lhe sendo dada a importância e relevo que teve no passado.

1826-1828
A neta de D. João VI, D. Maria II, chega mesmo a condenar publicamente a Tauromaquia considerando-a bárbara.

1828-1834 
D. Miguel I anula a tendência da sua sobrinha D. Maria II e restaura o estatuto da Tauromaquia incentivando a sua recuperação.

1836
D. Maria II, novamente no poder, tenta novamente a proibição total o que provocou o insurgir de nobres e plebeus contra a sua medida. Curiosamente, ou talvez não, neste mesmo ano é criada a Inspecção Geral de Teatros e Espectáculos que está intimamente ligada à Tauromaquia.

1889-1908 
D. Carlos I afirma a presença da Tauromaquia na cultura de Portugal e em 1892 é inaugurada a praça do Campo Pequeno em Portugal.

1930 
Só nesta altura os Cavalos passam a ser protegidos por uma malha protectora para impedir a perfuração por parte dos cornos dos Touros. Até aqui era frequente que nas touradas morressem mais Cavalos do que Touros sendo quase considerados como instrumentos dispensáveis para atingir o fim da lide.

Fonte

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